FOLHA DE SP - 14/11
SÃO PAULO - Fernando Haddad e Gilberto Kassab, ambos, no final das contas, tinham razão em seus diagnósticos sobre a Prefeitura de São Paulo. A situação era e é de descalabro.
Kassab foi prefeito de São Paulo por quase sete anos, período em que duas fábricas de dinheiro funcionaram ativamente debaixo do seu nariz. Uma instalou-se no departamento responsável pela aprovação de empreendimentos imobiliários e era chefiada por um cidadão, Hussain Aref Saab, velho conhecido de Kassab que conseguiu adquirir 106 imóveis enquanto esteve no cargo. A outra funcionava no setor de arrecadação de impostos e desviou milhões dos cofres públicos.
Haddad foi eleito há um ano e seu olfato também não foi suficientemente sensível para perceber que algo estranho ocorria na sala ao lado da sua. Antonio Donato, chefe de sua campanha e seu braço direito na prefeitura, mantinha relações próximas com fiscais suspeitos de corrupção.
Donato trouxe, inclusive, um deles para trabalhar em seu gabinete, mesmo após Haddad ter recebido uma denúncia anônima por escrito relatando a participação do sujeito em cobrança de propina. O fiscal, que é chamado nominalmente de "bandido" no documento, é o tal que disse, em depoimento ao Ministério Público, ter pago mesada para o ex-secretário.
Ainda que isso não seja verdade, como diz Donato, chama a atenção o modo como o petista encara a coisa pública. O ex-secretário afirmou à Folha que trouxe o fiscal para seu gabinete para atender "um cara que ajudou na campanha". Mas o que ele fazia no gabinete? Segundo nota emitida pela própria prefeitura, "ele não tinha função específica". Ou seja, não fazia nada.
Com tanto descalabro, como diriam Haddad e Kassab, uma pergunta se impõe: uma prefeitura na qual impostos são desviados, fiscais se enriquecem e funcionário público não precisa trabalhar tem moral para aumentar drasticamente o IPTU?
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