quinta-feira, novembro 14, 2013

Corrupção transversal - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 14/11

Acusação contra braço direito de Haddad reforça percepção de que a chamada máfia do ISS articulava-se de maneira suprapartidária


Nada se comprovou, até aqui, a respeito do envolvimento de autoridades políticas na chamada máfia do ISS (Imposto sobre Serviços). São cada vez mais consistentes, entretanto, os indícios de que o esquema de corrupção não era prerrogativa de nenhum partido que tenha ocupado a Prefeitura de São Paulo nos últimos anos.

As suspeitas naturalmente incidem com maior intensidade sobre a gestão do ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Foi durante seu governo que, segundo as investigações, se estruturou a quadrilha acusada de cobrar propina em troca de descontos ilegais no ISS.

Dos quatros fiscais que chegaram a ser presos, três mantiveram cargos de confiança na administração de Kassab --um deles, Ronilson Bezerra Rodrigues, apontado como líder do grupo, foi subsecretário da Receita municipal.

Consta, além disso, que os recursos arrecadados por baixo dos panos eram distribuídos sem cerimônia na sede da prefeitura. Sendo tão volumosas as receitas da corrupção --calcula-se que os quatro fiscais tenham acumulado patrimônio de R$ 80 milhões--, é de perguntar como tanto dinheiro vivo não chamava a atenção.

É o que faz Roberto Bodini, promotor responsável pelas investigações, ao justificar sua pretensão de ouvir explicações de Mauro Ricardo, ex-secretário de Finanças nas gestões de José Serra (PSDB) e Kassab e superior direto de Ronilson.

"Foram anos com dinheiro sendo entregue no andar de baixo do seu local de trabalho, dentro do prédio público (...). E ele [Mauro Ricardo] não sabia nem procurou saber?" --questiona Bodini.

A dúvida é pertinente. Ainda mais porque a atual administração, do prefeito Fernando Haddad (PT), identificou com facilidade a existência de desvios.

Nem por isso, contudo, a gestão do petista passará incólume. Já se sabia, por exemplo, que Ronilson ocupou, neste ano, cargo de diretor de finanças na SPTrans. Vieram a público, anteontem, fatos bem mais comprometedores.

Primeiro, esta Folha mostrou que o fiscal Eduardo Horle Barcellos, partícipe das fraudes, trabalhou por três meses com a equipe do secretário de Governo, Antonio Donato, braço direito de Haddad. Embora negue qualquer vínculo com os desvios, Donato pediu demissão de seu cargo.

Depois, soube-se pelo "Jornal Nacional", da Rede Globo, que Barcellos, em depoimento ao Ministério Público, afirmou que Donato recebeu dos fiscais R$ 20 mil por mês, de dezembro de 2011 a setembro de 2012. É seu quinto elo com o caso --compreensível, pois, que a Promotoria queira ouvi-lo.

Outro político de outro partido --o vereador Aurélio Miguel, do PR-- também foi mencionado por Barcellos. Não será surpresa, a esta altura, se a lista de legendas de algum modo implicadas nesse caso continuar aumentando. É crucial, portanto, que as investigações também sejam suprapartidárias.

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