O GLOBO - 03/10
A agenda político-eleitoral de partidos mais à esquerda leva sindicato a deixar de atuar, como deveria ser, exclusivamente em favor da categoria profissional
Enquanto as manifestações de rua, iniciadas em junho, se alastraram pelas capitais e não muito depois começaram a perder força, no Rio aspectos políticos locais mantiveram mobilizações localizadas. O mais importante delas, a greve de professores estaduais e municipais. Desde o período inicial da redemocratização, quando, na rearticulação sindical, surgiu o Sepe (Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação), não se via manifestações como as atuais. Mas a violência, hoje, parece maior.
É estranho, para os menos avisados, que esta mobilização ocorra quando o professorado municipal, onde é maior a tensão, consegue não apenas um novo plano de cargos e salários — o último tinha pouco mais de 20 anos — mas também um reajuste real, acima da inflação, de 8%. Reconheça-se que a remuneração do magistério continua baixa para a importância da função, mas, além do aumento, passam a haver novas e melhores regras de reenquadramentos e promoções.
Porém, a aprovação do plano, na Câmara de Vereadores, terça, fechou o Centro, prejudicando milhares de pessoas, porque Cinelândia e adjacências serviram de área para confronto entre sindicalistas, vândalos e PMs até o início da noite. A violência é explicada, em parte, pelo perigoso fenômeno de grupos anarquistas (black blocs, por exemplo) que se aproveitam, principalmente em Rio e São Paulo, das mobilizações para depredar.
Ocorre, ainda, a subordinação do Sepe a plataformas político-eleitorais de partidos mais à esquerda — PSOL, PSTU —, em que a prioridade é enfrentar a aliança partidária no poder no estado e na prefeitura.
Surgido sob direta influência do PT, com o tempo o Sepe se radicalizou. Simboliza bem o atual sindicato dos professores a cena de um líder sindical, na terça-feira, enaltecendo, de cima do carro de som, a ação de vândalos do black blocs.
Não se contesta, é claro, a liberdade de organização política, conquista da redemocratização. O PT e a CUT têm origens que se entrelaçam, por exemplo. Mas propostas da CUT não transitam com facilidade no governo federal do PT. Caso da bandeira da jornada de 40 horas. E vice-versa. Pois a necessária reforma da Previdência, que parte do PT já se convenceu ser necessária, é rejeitada pelo braço sindical do partido.
Quando partido e sindicato se misturam ocorrem problemas como a crise da GM em São José dos Campos, em que os metalúrgicos, radicalizados pelo PSTU, levaram a montadora a começar a transferir a produção para outras unidades do grupo. Os metalúrgicos perdem os empregos e o município, arrecadação. O fenômeno é clássico e esteve por trás do esvaziamento de Detroit (EUA).
Na greve de professores é mais grave. Se operários podem procurar colocação em outras regiões, milhares de crianças e jovens, a maioria de famílias de renda mais baixa, do extrato social que PSOL e PSTU se arvoram a representar, têm prejuízos no aprendizado de difícil ou impossível recuperação.
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