CORREIO BRAZILIENSE - 30/09
A vocação natural do Brasil para ser um importante player global do alumínio, sustentada durante décadas pela combinação estratégica da terceira maior reserva de bauxita do mundo, disponibilidade de energia hidrelétrica a baixo custo e tecnologia de escala para transformação, está ameaçada.
A extração do minério e a transformação em alumina se confirmaram em importantes atividades industriais, além de contribuírem na geração de divisas para o país. Já a produção de alumínio primário, mercê dos altos preços da energia elétrica no Brasil, vem declinando, sem perspectivas de futuros investimentos.
Pelo contrário, atores importantes só fazem por reduzir a produção nacional, indicando o momento emblemático de declínio da indústria de alumínio primário no país. O capítulo mais recente foi protagonizado pela Alcoa, que acaba de cortar o volume fabricado em 124 mil toneladas por ano de suas fábricas de Poços de Caldas (MG) e São Luís (MA). Não foi o único: em abril, a unidade da Novelis de Ouro Preto (MG) reduziu em 20 mil toneladas sua produção, depois de a empresa ter encerrado, no fim de 2010, as atividades da fábrica de Aratu (BA) (60 mil toneladas). Some-se ainda o fechamento, em 2009, da unidade da Valesul no Rio de Janeiro, com produção de 95 mil toneladas.
Em paralelo, o setor enfrenta a concorrência externa dos produtos semielaborados e acabados de alumínio. Pressionados pelo custo de produção nacional e mudanças conjunturais do câmbio, os itens fabricados no Brasil sofrem com a perda de competitividade.
Disponível em condições competitivas, o gás natural pode ajudar a reverter esse quadro. Dentro da cadeia produtiva do alumínio, o insumo substituiria com vantagens o óleo combustível em praticamente todo o parque industrial, nas etapas fundamentalmente térmicas, que são as de transformação da alumina e de produtos semielaborados, além da refusão da sucata de alumínio na atividade de reciclagem. Mas, sem dúvida alguma, sua grande contribuição seria na autogeração de energia elétrica, por meio de térmicas a gás, para a retomada da produção de alumínio primário.
Sem a disponibilidade de energia elétrica competitiva, que torne o Brasil novamente atrativo para investimentos em novas fundições de alumínio primário, aumentarão as importações do metal, da sucata e de produtos transformados em geral, uma vez que está muito próximo o momento em que a demanda doméstica de alumínio ultrapassará a oferta. Como consequência, a indústria de transformação também será prejudicada, afetando inclusive a atividade de reciclagem, resultando em perda de postos de trabalho e de tudo o que já foi investido, enquanto assistimos à captura do crescimento do consumo brasileiro por produtos estrangeiros.
Toda essa ameaça pode ser minimizada quando o gás natural despontar como insumo energético de primeira linha, o que daria novo fôlego ao setor, em todas as etapas de produção, e auxiliar na recuperação da competitividade perdida. O fato é que, segundo projeções da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), mesmo sem a produção do energético a partir de depósitos de xisto e de outras fontes não convencionais, a oferta deve triplicar até o início da próxima década. É gás que deve chegar mais barato à indústria, num alento para os grandes consumidores de energia que veem hoje a competitividade ameaçada pelos custos elevados da eletricidade.
Estudo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) denota a importância disso. O insumo já vem substituindo o óleo combustível nos processos térmicos do setor de alumínio. Mas pode ir muito além: ao preço de US$ 7 por milhão de unidades de medida de gás (BTU), o gás teria condições de fazer a diferença na etapa mais crítica, a autoprodução de eletricidade em usinas térmicas pode reduzir os custos na etapa da produção do alumínio primário.
Essa equação da competitividade também está vinculada a outras vantagens da autogeração: a redução do custo de transmissão e de distribuição da eletricidade. Os baixos custos da logística do gás e a segurança do seu uso completam o cenário favorável para o setor.
O Projeto +Gás Brasil indica caminhos para chegar a essa realidade. Entre as alternativas, a implementação de uma política de controle de preços do energético enquanto o mercado do insumo não for competitivo, como previsto pela Resolução nº 6/2001 do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), bem como a reformulação da política de formação de preços de maneira mais aderente e estimulante à realidade brasileira, de consumo e oferta crescentes. São desafios importantes, que certamente poderão auxiliar o alumínio brasileiro a retomar posição de destaque na economia nacional.
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