Depois de uma maré de más notícias, hoje será dia de número bom: o do PIB do segundo trimestre. Ele deve mostrar um crescimento mais forte do que no primeiro trimestre e de maior qualidade, porque espalhado pela economia. Ontem, também saiu uma boa nova: o IGP-M despencou. Isso dá mais espaço para o impacto que os preços sofrem com a alta do câmbio.
Os bancos, consultorias e institutos estão prevendo que o número que sairá hoje do IBGE deve mostrar que o segundo trimestre foi o melhor do ano. Entre os grandes bancos, o Itaú Unibanco é um dos mais otimistas, apostando em 1,1% em relação ao primeiro trimestre e 2,9% na comparação com o mesmo período de 2012. O Bradesco calcula um dado mais perto do que mostrou o IBC-Br: 0,9%. A MB Associados também acompanha o 1,1%. A Galanto prevê 1%. A Tendência, 0,7%.
As previsões variam de 0,7% a 1,3% dependendo de vários fatores; um é a dúvida se o IBGE vai rever o número do primeiro trimestre, o que alteraria os cálculos do segundo. Seja como for, o importante não é o dado cravado, mas a convicção geral de que o segundo trimestre foi bom, superou o primeiro e o crescimento foi mais disseminado: bons números para a indústria, agricultura, consumo, investimento.
Se o PIB trimestral de 1% for anualizado dá um crescimento de 4%. O problema é que o índice não pode ser projetado para os próximos trimestres. O que houve com a economia de abril a junho não está repetindo no período de julho a setembro. Os indicadores antecedentes já divulgados mostram uma redução forte do ritmo de crescimento no terceiro trimestre. Nos últimos três meses do ano, o ritmo melhora ligeiramente. Por isso o trimestre bom não altera o fato de que 2013 será de crescimento baixo; maior do que o minicrescimento de 0,9% do ano passado, mas ainda assim, baixo.
Outra boa notícia do dia de ontem traz um certo problema para nós: os EUA deram mais um passo para o momento da retirada dos estímulos monetários à economia. O PIB do país cresceu 2,5% (taxa anual) no segundo trimestre, acima dos 2,2% esperados e do primeiro número previsto (1,7%). É mais que o dobro do ritmo visto no primeiro trimestre. Isso confirma a tendência de valorização da moeda americana: quanto mais aparecem dados provando a recuperação econômica dos EUA, mais se confirma a previsão de retirada dos estímulos e mais a moeda americana se fortalece. Com essa notícia, o dólar, depois de dois dias de queda, fechou ontem em alta de 0,94% - a maior desvalorização entre os emergentes, a R$ 2,370.
No Brasil, o ponto fraco continua sendo a área fiscal. As contas do governo central, por exemplo, tiveram em julho um superávit primário de R$ 3,72 bilhões, o menor para o mês desde 2010. Significa uma queda de 7% em relação ao mesmo mês do ano passado. E, ontem, o ministro Mantega admitiu que a taxa de superávit primário em 2014 também poderá ser menor. A meta, na verdade, será de 2,1%. E isso com eles prevendo para o ano que vem um crescimento de 4%. O mercado prevê 2,4%.
A inflação medida pelo IGP-M desacelerou. Em agosto, ficou em 0,15%. No mesmo mês do ano passado, havia sido de 1,4%. Isso fez despencar o dado em 12 meses para 3,85%. É bom que o índice esteja baixo porque a alta do dólar tende a pressionar os preços do atacado nos próximos meses. Os IGPs são formados, em parte, pelos preços do atacado. O impacto pegará o índice baixo.
Hoje, o governo vai comemorar o dado do PIB como prova de que os 4% incluídos no Orçamento de 2014 serão atingidos. Muita coisa terá que mudar na conjuntura para que esse número se realize.
Uma das apostas do governo para mudar o humor do mercado é a série de leilões de concessões que está marcada para os próximos meses. Há quem acredite que se forem bem sucedidos e atraírem investidores, os leilões dos aeroportos, rodovias e ferrovias podem mudar o clima e começar a atrair investimento. Nada disso altera o crescimento imediatamente, mas melhora o índice de confiança. O que pode impedir o sucesso dos leilões é que há muita incerteza regulatória, dúvidas sobre as regras dos leilões e rejeição ao modelo do governo de fixar a taxa de retorno. Mas é a melhor carta que o governo tem nas mãos para reverter o desânimo com a economia brasileira.
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