CORREIO BRAZILIENSE - 30/08
Segundo Morales, o Brasil precisa explicar a fuga do senador Roger Pinto Molina. Ele deixou a embaixada brasileira, onde passou cerca de um ano e meio confinado numa sala sem janela, com o apoio do encarregado de negócios do Brasil na Bolívia, Eduardo Saboia, que assumiu a responsabilidade pela operação. Alega perseguição política e risco de vida porque denunciou o envolvimento do governo boliviano com o narcotráfico. Evo Morales se recusou a dar o salvo-conduto a Morales e, agora, pediu à Interpol que o prenda, pois ao sair do país tornou-se um foragido da justiça boliviana. Dilma demitiu o chanceler Antônio Patriota e removeu o diplomata, mas isso não basta para a Bolívia.
A concessão do asilo a Roger Pinto seguiu a tradição diplomática do Itamaraty e latino-americana. Contraria, porém, a atual doutrina da política externa brasileira para o continente. De um lado, temos os governos de esquerda — da Argentina, do Uruguai, da Venezuela, do Equador e da Bolívia; de outro, os governos de centro direita — do Chile, do Peru e da Colômbia, que se unem ao México e formam a chamada Aliança do Pacífico, alinhados aos Estados Unidos. O Paraguai, que havia sido afastado do Mercosul, está com um pé na Aliança do Pacífico. O Brasil optou por disputar com a Venezuela a liderança do bloco à esquerda e mantém distância regulamentar dos demais países. A concessão do asilo a Roger Pinto enfraquece a posição do Brasil na sua esfera da influência.
Liberais e nacionalistas
No Itamaraty , ao contrário das Forças Armadas, houve períodos de certo consenso sobre a política externa entre uma ala americanista, de caráter liberal, e outra nacionalista, de esquerda. Elas se uniram, por exemplo, em dois momentos decisivos para o país: quando o Brasil entrou na II Guerra Mundial e no governo de Juscelino Kubitschek. A corrente mais reacionária só foi hegemônica no Estado Novo, em 1935; e logo após o golpe militar de 1964. Mesmo no regime militar, com Saraiva Guerreiro, houve certo consenso. Com a democratização do país, o comando do Itamaraty continuou sendo disputado entre liberais e nacionalistas, mas o consenso se desfez. Os primeiros mandaram durante o governo de Fernando Henrique Cardoso: os segundos, dão as cartas desde a eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O caso Roger Pinto expõe novamente essa contradição.
Dilma e Lula
A presidente Dilma Rousseff herdou do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva essa doutrina para América Latina, com a qual concorda. A diferença é que Lula visitava com muita frequência a Argentina, a Bolívia e a Venezuela, ao passo que a presidente Dilma Rousseff, por diversas razões, distanciou-se dos demais líderes de esquerda do continente, com exceção da presidente argentina Cristina Kirchner. Lula teve muita paciência com Evo Morales; Dilma, não tem nenhuma.
Apagão// Doutor em energia elétrica, o secretário da Indústria e Comércio da Bahia, James Correia, culpou a Chesf pelo apagão em nove estados do Nordeste. “É culpa da incompetência da Chesf.” Ele quer a cabeça do presidente da Chesf, João Bosco de Almeida, que é apadrinhado do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).
Fora de jogo
O deputado federal Romário (foto), do Rio de Janeiro, passou por uma cirurgia ontem de hérnia de disco lombar no Hospital Sarah Kubitschek, em Brasília. Foram seis horas de operação, mas o craque passa bem. O parlamentar já havia se submetido a outros procedimentos cirúrgicos, considerados paliativos, para amenizar a dor. Na semana passada, começou a sentir dores fortes e contínuas, que impediam sua locomoção.
Digitais
Não votaram na sessão que deveria cassar Donadon 103 deputados
Efeito Orloff
A Câmara dos Deputados livrou de cassação o deputado federal Natan Donadon, que está condenado a 13 anos, 4 meses e 10 dias por peculato e formação de quadrilha, em votação surpreendente. Foi um recado para o Supremo Tribunal Federal dos parlamentares contrários à cassação dos quatro parlamentares condenados na Ação Penal 470. Preso no Complexo Penitenciário da Papuda, Donadon sensibilizou muitos colegas: eu sou vocês amanhã. Dos 513 deputados, somente 233 votaram por sua cassação, que exigia 257 votos a favor. Houve 131 votos contra e 41 abstenções.
Nós, quem?/ A bancada do PT na Câmara repudiou “qualquer tipo de insinuação” de que o partido teria feito um acordo no processo de votação que manteve o mandato do deputado Natan Donadon. Assinada pelo líder José Guimarães, a legenda esclarece que 78 parlamentares marcaram presença; 10 não estavam em Brasília por motivo de doença ou missão oficial; 67 votaram e 11 não o fizeram.
Perto do céu/ Cerca de 200 médicos cubanos que estão em treinamento em Brasília foram transferidos de alojamentos militares para abrigos civis, mas confortáveis. Um deles é o Mosteiro de São Bento.
Cassação/ O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), e o líder do PSDB, Carlos Sampaio (foto), anunciaram que entrarão com mandado de segurança no Supremo Tribunal Federal (STF) para anular todo o processo de cassação do deputado Natan Donadon (RO) porque a Mesa Diretora da Câmara enviou-o à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) em vez de declarar, de ofício, a perda de mandato.
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