Cada um faz a conta que quer. O PMDB contabiliza como vitória a candidatura do deputado federal Júlio Delgado, do PSB, não ter levado a disputa pela presidência da Câmara para o segundo turno, embora Henrique Alves tenha, por causa dela, recebido menos votos do que esperava. Um bom número de votos ao candidato do PSB teria sido dado pelo PT, para enfraquecer o PMDB. A eleição de Alves teria sido, sobretudo, a demonstração de que o PT na Câmara não tem força para se contrapor ao PMDB.
Já o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, vê o contrário. Sem que ele se tivesse metido na disputa oficialmente, o PSB conseguiu reunir em torno de Júlio Delgado um grupo de deputados federais expressivo (165 votos), e, principalmente, diferenciou-se dos demais partidos diante da opinião pública. Ao criticar PT, PMDB e PSDB, aos quais se oferece ao eleitorado como alternativa, o governador Eduardo Campos pode ter estressado sua relação dentro da aliança governista, mas está convencido de que, aumentando seu grau de independência, aumenta também sua capacidade de atrair o voto dos descontentes com a dicotomia PT-PSDB e, sobretudo, os que não aceitam o PMDB como parceiro necessário de qualquer tipo de governo.
O PSDB agiu com a cautela típica da maneira de fazer política do senador Aécio Neves, preservando compromissos internos no Congresso, e passou a ideia de que se opunha à candidatura do senador Renan Calheiros mais do que à de Henrique Alves na Câmara, e muito menos ao PMDB. E deu votos a ambos os candidatos peemedebistas.
No caso da Câmara, havia uma necessidade básica, a de não fortalecer o PSB, que pode vir a ser um adversário na campanha de 2014. Preservando seus laços suprapartidários no Congresso, o senador Aécio Neves pode ter avançado no caminho de futuras negociações políticas, mas o PSDB deixou mais uma vez de marcar posição como partido oposicionista.
De toda essa movimentação política de início de legislatura, tem-se com clareza que o PT está ficando isolado, o que justifica um nervosismo latente entre seus principais dirigentes, que se reflete em entrevistas, e no trabalho mais angustiado dos militantes partidários, sobretudo na blogosfera, com alguns querendo transformar a condenação de José Dirceu e outros pelo Supremo em um golpe contra o governo.
Ao mesmo tempo em que a situação da economia não dá sinais de melhora - a entrevista da presidente da Petrobras, Graça Foster, é um exemplo de como a politização da economia pode ter consequências graves -, o esgarçamento da base aliada é evidente na medida em que a expectativa de permanecer no poder vai ficando em risco.
O PMDB pretende usar o controle do Legislativo para fortalecê-lo diante do Executivo e do Judiciário, o que pode ser sinal de momentos mais atritados no relacionamento entre os três Poderes. O confronto com o Judiciário tem data marcada,e mais retórico do que prático pelo que disse ontem o novo presidente da Câmara, Henrique Alves, e pode ser superado pelo passar do tempo, pois somente a partir do segundo semestre deste ano estará encerrado o processo do mensalão. Saberemos então se a posição da Câmara é pura "especulação", como acha o presidente do Supremo, Joaquim Barbosa, ou se o confronto será um instrumento útil na ocasião para a afirmação do Legislativo.
Mas o relacionamento com o Executivo tende a ser mais conflitante no dia a dia, pois os novos presidentes da Câmara e do Senado pretendem superar o desgaste diante da opinião pública com medidas concretas que tirem os parlamentares da posição defensiva em que se encontram. Além da tentativa de recuperar a iniciativa das ações políticas no âmbito congressual, porque sabe que os parlamentares só terão importância quando o Congresso for importante, o PMDB terá também que lidar com as manobras petistas com vistas à eleição presidencial de 2014. O partido está em posição de força para resistir à tentativa de tirá-lo da chapa presidencial, e está disposto a usá-la.
Nenhum comentário:
Postar um comentário