O Estado de S.Paulo - 20/01
Ulysses Guimarães costumava dizer que o tempo não perdoa quem não sabe trabalhar com ele. Referia-se à arte de fazer política, numa fase histórica em que o Congresso esteve à altura de seu papel construindo pacientemente a redemocratização do país.
Abduzidas as motivações nobres do passado, o PMDB manteve-se fiel ao princípio, valendo-se de sua força parlamentar e capilaridade nacional para impor-se a sucessivos governos, mais hora, menos hora.
Desde o telefonema do ex-ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, ao vice-presidente Michel Temer, em maio de 2011, ameaçando em nome da presidente Dilma Rousseff, demitir todos os ministros do PMDB, passaram-se 19 meses - menos da metade do mandato presidencial.
Desafiado a consumar as demissões, Palocci voltou atrás, desculpou-se pela bravata, mas o episódio serviu para o PMDB marcar território e se impor como sócio efetivo na aliança, na qual o PT lhe reservara papel secundário desde o governo Lula, quando concebeu o mensalão para prescindir de seu apoio.
O comando das duas presidências do Congresso pela dupla Renan Calheiros (AL) e Henrique Eduardo Alves (RN), apesar de suas biografias e práticas andarem na contramão do manual de bons costumes, devolvem ao PMDB a condição de força capital para a reeleição de Dilma (e de qualquer de seus adversários) e traduzem a capitulação da presidente e do PT a essa realidade depois de uma década no poder.
Cumprido o acordo de cúpula que elege Renan e Alves, as bases municipais do PMDB estão abertas a Dilma, que já as visita com a urgência de candidata.
Fala sério
Além do avanço do PMDB, o apoio agora ostensivo do governador Eduardo Campos à candidatura de Julio Delgado (PSB-MG), para a presidência da Câmara, preocupa a corrente do PT contrária à defesa obsessiva dos condenados do mensalão, certa de que perde tempo alimentando uma crise inútil com o Supremo Tribunal Federal. Atento ao conflito interno do rival, o líder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS), lança uma agenda objetiva com foco na retomada do crescimento econômico, monitoramento da crise energética, votação do Orçamento e novas regras para o Fundo de Participação dos Estados. "Um País com essas pendências não pode priorizar o mensalão. Precisamos de mais comprometimento", provoca.
Nova versão
Depois de Mônica Veloso, pivô do escândalo que o derrubou da presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) prepara livro com sua versão do episódio. Ainda sem título, pretende ser o contraponto ao da ex-amante - "O Poder que seduz".
Mais forte
Em troca do apoio a Renan Calheiros, o PTB garantiu a presidência da Comissão de Infraestrutura para o senador Fernando Collor (PTB-AL) - cargo que ele já ocupou de 2009 a 2011, quando derrotou a então senadora Ideli Salvatti (PT-SC) na disputa pela vaga. Depois presidiu a Comissão de Relações Exteriores. A comissão é estratégica porque sabatina os presidentes de agências reguladoras e vota projetos relativos ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Blefe
O bloco PTB-PR também garantiu a presidência da Comissão de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle ao senador Blairo Maggi (PR-MT). Ele ameaçava deixar o partido usando o virtuoso pretexto da má companhia do mensaleiro condenado Valdemar Costa Neto (PR-SP), que num piscar de olhos passou de problema a solução. Para Blairo, claro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário