Depois da Venezuela, bloco pode abrir as portas a Bolívia e Equador, ou seja, absorver parte da Alba, palco de Chávez. Será impossível fechar amplos acordos de comércio
O noticiário argentino sobre a contagem regressiva para o governo de Cristina Kirchner fechar definitivamente o cerco em torno do Grupo Clarín terminou, em certa medida, deixando em segundo plano, no noticiário sobre a América Latina, o encontro de cúpula do Mercosul em Brasília, semana passada, com a presença da presidente argentina. Também a ausência do caudilho venezuelano Hugo Chávez, prestes a se submeter em Cuba à quarta operação contra um câncer, reduziu o interesse em torno da reunião — a presença de Chávez é sempre garantia de algo bizarro.
E como a própria agenda da cúpula não ajudou, a reunião foi uma das menos interessantes dos últimos tempos. Mas não de todo, porque se voltou a tratar da entrada de Bolívia e Equador como sócios plenos do bloco. Assim, o Mercosul, depois de permitir o ingresso da Venezuela de Chávez, numa manobra oportunista de Brasil e Argentina, prepara-se para absorver outra parte da Alba, a Aliança Bolivariana para as Américas, palco armado pelo próprio Chávez para nele desfilar com seu proselitismo contra o “imperialismo”. Neste ritmo, o próximo passo para o Mercosul será absorver Cuba, Nicarágua, assim por diante.
Se o objetivo for apenas político, de formar uma anacrônica trincheira contra os “ricos”, tudo certo. Mas se visar ao desenvolvimento pela rota segura do comércio exterior, nada feito. O Mercosul caminha para o engessamento nas negociações multilaterais e para a insignificância.
Submeter o Mercosul à Alba — impensável tempos atrás — é uma decorrência até lógica da manobra golpista de Brasil e Argentina de aproveitar o afastamento de Lugo da presidência do Paraguai pelo Congresso, tachar o fato (polêmico), sem maiores discussões, de um atentado contra a democracia, e afastar o país do bloco, contrabandear Chávez para dentro do Mercosul e torná-lo fato consumado.
Como o Congresso paraguaio se recusava a votar o salvo-conduto para a Venezuela ser convertida em membro titular do Mercosul, a punição ao país resolveu o problema. O Paraguai, porém, deverá retornar ao bloco depois das eleições de abril. Contratou-se uma provável crise para o primeiro semestre.
Enquanto isso, acordos bilaterais continuam a ser feitos no mundo e se forma outra união comercial no continente (Chile, Colômbia e México, a Aliança do Pacífico), com mais flexibilidade do que este Mercosul bolivariano.
Se é difícil imaginar algum acordo com países importantes do ponto de vista comercial com Chávez à mesa — ou um fiel seguidor de sua corrente ideológica —, o que dizer de Evo Morales e Rafael Correa, da Bolívia e Equador?
No final de janeiro, missão da União Europeia terá reunião de cúpula no Brasil e depois se encontrará com a bancada do Mercosul. Será um teste para o bloco já sob influência chavista. Vide os rumos do governo de Cristina K. Não se pode ser otimista.
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