CORREIO BRAZILIENSE - 02\11
A incógnita do futuro próximo é o governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Não se sabe se ele repetirá 2006, quando foi candidato a governador e manteve o apoio ao PT por oito anos, ou se repetirá Belo Horizonte 2012, quando PSB e PSDB, juntos, afastaram totalmente os petistas da prefeitura da cidade
Na última quarta-feira, um grande amigo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, me disse a seguinte frase: “O coração de Eduardo é 100% candidato a presidente da República já em 2014. Falta fechar esse percentual na razão”. Entre os parlamentares, os bastidores estão dominados por essa “novidade” no tabuleiro da sucessão presidencial. Uns entusiasmados, outros irados. O governador faz questão de manter o suspense e, em vez de passar por Brasília ontem para “aquela conversa americana” com a presidente Dilma Rousseff, preferiu ficar quieto, em Fernando de Noronha, onde passará o feriadão. Antes de viajar, no entanto, mandou um recado ao Planalto: seu partido não pleiteia mais espaço no governo. Leia-se, nem adianta oferecer um ministério a Ciro Gomes.
Desde o início deste ano, o ciclo “acende-apaga” do governador se repete. Eduardo faz um movimento mais ousado. Vitorioso na “ousadia”, dá entrevistas, desfila. E, em seguida, recolhe os flaps. Foi assim quando da eleição da deputada Ana Arraes, mãe dele, para ministra do Tribunal de Contas da União (TCU). Movimento idêntico se deu nesta eleição municipal. Talvez apareça por Brasília na segunda-feira, para uma audiência com Dilma, mas, até ontem, não havia nada fechado sobre o encontro. Há quem diga que o próximo movimento “ousado” será a candidatura de Júlio Delgado (PSB-MG) a presidente da Câmara, mas isso não está líquido e certo. Afinal, se Júlio tiver menos de 200 votos será mico para um governador cujos aliados acreditam ter colecionado uma série de eventos capazes de provocar uma candidatura presidencial.
Primeiro, vem o que alguns partidos chamam de crise do PT. Lula ganhou São Paulo, foi o grande vitorioso, o PT se uniu por lá, mas, no Nordeste, a derrota foi grande. Em segundo lugar, a situação econômica do país ainda não está tão segura ao ponto de levar Dilma a uma vitória. E, além de tudo isso, o principal adversário do governo, o PSDB, partido do qual Eduardo se aproximou nesta eleição, vive uma crise em São Paulo. Todos esses são fatores que, associados ao desejo de mudança do eleitorado, levam a uma pré-candidatura presidencial do PSB.
Internamente, os socialistas comparam os resultados de Campinas e de São Paulo com alguma réstia de esperança. Primeiro, em São Paulo, o que levou Fernando Haddad à prefeitura foram as classes de renda mais baixa, especialmente, nos bairros de periferia. Em Campinas foi o inverso. Jonas Donizete (PSB) empatou com Pochman (PT) na periferia e conquistou os votos que já eram do PSDB. Ou seja, se Eduardo for candidato, a tendência é dividir o Nordeste, tirando os votos do PT, de quem é aliado hoje, da mesma forma que Donizete tirou de Pochman.
Matemáticas à parte…
Todos sabem, entretanto, que a política está longe de ser uma ciência exata, na qual eleitores confirmem projeções ou repitam os mesmos movimentos. Mas, no que se refere ao PSB, dois momentos eleitorais são analisados: Pernambuco 2006 e Belo Horizonte 2012. Em 2006, Campos foi candidato a governador contra o PT, foi ao segundo turno e venceu. O PSB tem dito que se Eduardo for candidato a presidente — e ficar fora de um segundo turno — apoiará Dilma. Em Belo Horizonte, na eleição municipal, o que houve foi o PSB cabeça de chapa com o apoio dos tucanos e vitória no primeiro turno.
O PSDB hoje não trabalha seriamente a hipótese de se aliar aos socialistas em 2014. O partido tem candidato a presidente da República, o senador Aécio Neves, de Minas Gerais — o segundo maior colégio eleitoral do país. Aécio se colocou à disposição do partido, dedica-se à construção de um novo discurso partidário, mas, assim como Eduardo Campos, não põe o carro na frente dos bois. A única aposta segura no momento é que o PT caminha para enfrentar um terreno bem diferente daquele que encontrou em 2010, contra Serra — um candidato que, apesar de sair muito bem de São Paulo, não encontrou um discurso, nem era uma “novidade” capaz de tirar votos dos petistas. Ali na frente, embora a tendência seja o PT sair muito bem de São Paulo, o risco de enfrentar o novo é cada vez maior.
Por falar em novatos…
Os prefeitos eleitos pelos partidos aliados ao governo Dilma têm telefonado para a ministra de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, para “exigir” audiências. É o velho movimento de quem se saiu bem nas urnas e tem quatro anos de mandato, posando hoje de vitorioso perante quem só tem mais dois anos pela frente e precisa de apoio para disputar a reeleição.
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