domingo, outubro 28, 2012

Uma eleição para o mundo - ALBERTO TAMER


O Estado de S.Paulo - 28/10


Sim a eleição presidencial nos Estados Unidos, no dia 5, não é apenas americana. É uma eleição para o mundo. O seu resultado influenciará de forma decisiva o comportamento da economia mundial nos próximos anos. Não é só a questão geopolítica ou o PIB americano que representa 26% do global - isolado é igual ao dos 29 países da União Europeia, como um todo -, é o profundo significado do seu comércio com o mundo. Os números atualizados da OMC e publicados há alguns dias indicam que, na verdade, todo o fluxo do comércio mundial passa ou depende do mercado americano.

Déficits crescentes. Mais, muito mais importante, os Estados Unidos absorvem há anos o excesso de produção mundial, mantendo déficits comerciais crônicos - importam mais do que exportam - que oscilam entre US$ 500 bilhões e US$ 700 bilhões. Compram o que os outros países produziram e deixaram de consumir, mesmo em seus anos de crescimento econômico. Não se trata de um fato isolado, recente. O déficit recuou apenas no ano de 2009, mas voltou a subir nos dois próximos anos e passa hoje do déficit de 2004.

O que eles pesam. De acordo com os dados mais recentes da OMC, os Estados Unidos importam 17% de tudo o que o mundo exporta.

Em alguns produtos como brinquedos e música, nada menos que 33%!

São os parceiros mais importantes para 60 países, entre os quais o Brasil. A professora Lia Valls Pereira, coordenadora do Centro de Estudos do Setor Externo, da IBRE/FGV, diz à coluna que a China ocupa o primeiro lugar na exportação de mercadorias, "mas, no comércio de serviços, são os maiores exportadores (14,1% das exportações mundiais seguido da Alemanha 6,3%). A China é o quarto." Nas importações de serviços é o primeiro, 10,2% seguido da Alemanha 7,3%.

De acordo com a OMC, o mercado americano é o maior importadores de 60 países, inclusive o Brasil, dependendo dos meses de maior embarque de commodities para a China.

Em uma frase, os números da OMC revelam que as importações americanas sustentam o comércio e, em consequência, a economia mundial. É o que revelam os números da OMC. E tudo isso vai ser decidido no próximo dia 5, nos Estados Unidos.

Obama? Romney? Mas a coluna antecipou a questão para a professora Lia Valls Pereira que publicou no último número da Conjuntura Econômica excelente análise sobre a primarização das exportações para os Estados Unidos.

Ela ressalva que não analisou a fundo as propostas econômicas dos dois candidatos, ainda questão de debates, mas reconhece um fato: "No caso do Brasil, especificamente, nenhum deles mostrou alguma estratégia, em especial. Num momento em que o tema do desemprego é prioridade no debate dos EUA, acho que as relações econômicas externas (a não ser questões políticas como o dos países árabes) têm um peso menor. A preocupação de todos é mostrar que empregos dos estadunidenses não serão perdidos por investimentos de empresas norte-americanas no exterior (mas nesse caso estão preocupados com a Ásia)."

No caso da caso da política comercial, diz Lais Pereira, "se formos priorizar a forma como os candidatos têm expresso o papel dos EUA no mundo, acho que Obama é melhor, mais disposto a dialogar, e atenua um pouco a diretriz unilateralista dos republicanos mais radicais.

"No entanto, tudo depende do momento econômico e, nos últimos anos, o governo de Reagan e Bush ergueram uma série de novas medidas protecionistas (Reagan década de 80, os acordos voluntários de restrição às exportações e Bush filho, a "Farm Bill" que aumentou os subsídios para os agricultores)..." Hoje os dois candidatos têm os seguintes programas econômicos:

Obama: Remover benefícios fiscais de empresas que criam fábricas em outros países

- Investir US$ 2 bilhões em faculdades comunitárias e forjar parcerias para treinar pessoas para 2 milhões de empregos

- Efetivar o corte de impostos de US$ 3,6 mil para famílias de classe média que ganham até US$ 50 mil por ano

- Dobrar as exportações para criar 1 milhão de empregos

- Retornar os impostos dos milionários aos valores da época do governo Clinton

- Investir em fontes alternativas de energia e cortar pela metade a importação de petróleo até 2020

- Criar 600 mil empregos em dez anos com a exploração de gás natural

- Cortar o déficit em US$ 4 trilhões

Romney: Restringir práticas comerciais desonestas com a China

- Buscar novos mercados para produtos americanos e incentivar negócios com a América Latina

- Cortar gastos não obrigatórios do Orçamento em 5 %

- Limitar os gastos públicos a 20% do PIB

- Criar 12 milhões de empregos

- Eliminar as regulamentações para exploração de carvão

Ou seja, em tese, não haveria muito a esperar...

Mais EUA-Brasil. Voltaremos ao assunto na próxima quinta-feira avaliando comércio, investimentos e as relações econômicas entre os dois países. Nesta coluna, tratamos especificamente do comércio multilateral americano com o mundo; na próxima, quatro dias antes da eleição americana, da importância das transações comerciais e dos investimentos americanos para o Brasil. Hoje, é deixar espaço para se tratar das eleições locais.

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