O GLOBO - 16/10
Algumas consultorias e bancos começaram a reduzir a taxa de crescimento prevista para o ano que vem. Entre elas, está a MB Associados, do economista José Roberto Mendonça de Barros. Ele se baseia no baixo investimento privado e no alto endividamento das famílias, que vai conter o consumo. Mesmo assim, há concordância geral de que o fim de ano vai ser bom.
A maioria ainda prevê para o ano que vem, em média, 4% de crescimento porque o país está aumentando o ritmo neste fim de ano.
- Está havendo uma recuperação neste final de ano e teremos um bom Natal - diz José Roberto.
Mas existem algumas travas nesse crescimento. A inadimplência subiu muito nos últimos meses. Isso deixa as famílias endividadas e elas reduzem compras. Na visão de Mendonça de Barros, inclusive, o recente aumento da oferta de crédito via banco público tem sido usado mais para pagar dívidas.
- Os bancos públicos têm sido bem agressivos na oferta de empréstimos, mas o multiplicador do crédito do setor público está tendo menos efeito que antes. Um dos motivos é que endividados tomam recursos e pagam dívidas antigas. Mais tarde, depois de quitada essa dívida, esses consumidores voltarão a comprar - explica o economista.
Outro problema é que o comércio internacional não está crescendo:
- O canal do comércio está menos forte, em parte pela crise externa, em parte pelo protecionismo argentino que afeta diretamente os manufaturados brasileiros.
Mendonça de Barros disse que o grande fator que o levou a rever para 3% a previsão de crescimento para 2013 é a falta de investimento privado.
- As indicações de encomendas de máquinas ou o indicador do IBGE do consumo dos insumos típicos da construção civil estão fracos - disse.
Vários são os motivos que explicam esse cenário. Um é que o governo tem feito intervenções em várias áreas ao mesmo tempo, e elas estão criando incerteza regulatória, mesmo que sejam mudanças que no médio prazo podem aumentar a competitividade. Um dos setores é o de energia elétrica. Já se sabia que haveria uma queda no preço pela revisão tarifária prevista no contrato, mas o governo decidiu antecipar as renovações das concessões:
- O momento da mudança tem mais a ver com a necessidade de reduzir pressão inflacionária do que reduzir custos das empresas consumidoras de energia. Claro que é legítimo negociar outras bases para a renovação dos contratos, mas por que tanta pressa? Está completando um mês do envio da Medida Provisória, o projeto tem 450 emendas, e as empresas têm que dizer agora se concordam com os termos da renovação ou não. Mas como é possível se elas nem sabem quais são os termos, já que o texto pode sofrer modificações no Congresso?
O economista acha que as empresas estão investindo pouco porque há incerteza sobre o ritmo da demanda de bens e serviços no país e em algumas áreas há incertezas provocadas por mudanças no padrão regulatório. As dificuldades do Brasil parecem pequenas quando comparadas com as de outros países, mas a crise lá fora mostra que a economia internacional continuará não ajudando.
- A China deve crescer em torno de 7,5%, o que para eles significa queda. A Europa está longe da solução. Alguns problemas continuam gravíssimos, como o da Grécia, entrando no quinto ano de encolhimento do PIB e com 25% de desemprego. O melhor cenário é não ter ajuda da economia internacional, mas não ter também um agravamento da conjuntura, como houve no fim do ano passado.
É isso, o mar não está para peixe. Assim, tudo é mais difícil. Pelo menos o Natal está garantido.
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