O Estado de S. Paulo - 16/10
Em Tóquio, onde foi realizada a assembleia anual do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial, foi reforçada a polêmica entre o governo brasileiro e o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) sobre o impacto das emissões de moeda nos países emergentes. Ficou claro que os grandes bancos centrais não mudarão sua política apenas para atender às queixas do governo brasileiro.
O ministro da Fazenda do Brasil, Guido Mantega, voltou a bater no tambor de que o Fed está fazendo guerra cambial contra os países emergentes. É a acusação repetida de que as emissões agora ilimitadas de moeda, destinadas a ajudar a tirar os Estados Unidos da crise, inundam os mercados com dólares e parte dessa liquidez aflui aos países emergentes, sobretudo ao Brasil, onde produz valorização "artificial" do real e tira competitividade da indústria.
É, com outro nome (tsunami monetário), a mesma denúncia feita pela presidente Dilma Rousseff, tanto no seu encontro, em março, com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, como no seu discurso na ONU, no dia 25 de setembro. Nesse final de semana, Mantega subiu o tom de seu discurso quando declarou que essa é uma "política egoísta" decidida e executada pelo Fed.
Também nesse final de semana e em Tóquio, o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, engrossou o mesmo coro. Acusou o Fed de prejudicar o Brasil com sua política e emendou: "Não seremos praça de desvalorização monetária dos outros países".
O presidente do Fed, Ben Bernanke, entendeu que precisaria dar o troco. Rejeitou as acusações e fez as afirmações já esperadas: (1) que essa política se destina a recuperar a economia dos Estados Unidos, atendendo, assim, ao que todos querem, especialmente os países emergentes; e (2) que não há nenhuma evidência de que essa política de salvação global prejudique as economias dos países em desenvolvimento.
Além disso, sugeriu que a enorme liquidez seja aproveitada pelos governos dos emergentes para deixar que suas moedas sejam revalorizadas no mercado (em relação ao dólar). Esse movimento, conclui Bernanke, ajudaria a derrubar a inflação – o que, por sua vez, abriria espaço para maior queda dos juros na economia. Enfim, Bernanke não se mostra comovido com os esperneios das autoridades brasileiras.
Até agora, os números do Banco Central do Brasil não apontam para nenhum sinal de recrudescimento do tsunami monetário a partir do mês passado, quando houve a decisão dos grandes bancos centrais de emitir mais moeda. Mas isso não significa que o afluxo de moeda estrangeira não aconteça. O Fed despejará US$ 40 bilhões por mês. Em algum momento, a enxurrada voltará a transpor as fronteiras do Brasil.
Fica mais do que claro que nem o Fed nem os demais grandes bancos centrais (Banco Central Europeu e Banco do Japão) – que o governo brasileiro envolve no mesmo pacote de queixas – desistirão dessa política de expansão monetária.
Isto posto, o governo brasileiro pode fazer duas coisas: ou voltar a permitir a valorização do real e, assim sendo, usar o câmbio para combater a inflação; ou reforçar suas compras de moeda estrangeira no câmbio interno para evitar seu impacto no comércio.
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