domingo, setembro 23, 2012

Política & negócios - DENISE ROTHENBURG


CORREIO BRAZILIENSE 23/09

Alguns encontros servem para medir a quantas anda a confiança em determinados setores dentro de um país. E se comparados com edições anteriores, indicam quanto servem para embalar a política. A Rio Oil & Gas é um desses casos. O evento é o maior da América Latina do setor do petróleo. Ocorre de dois em dois anos, atraindo empresas de todo o mundo. Este ano, foi mais tímido. No dia de sua abertura, por exemplo, a cúpula do governo tratava de obras de plataformas da Petrobras no estaleiro de Rio Grande (RS), bem longe dos empresários que foram ao Rio de Janeiro para a conferência.

Aqueles experientes homens de negócios do setor, que não perdem uma edição, registraram os detalhes das mudanças de prioridade do governo. Em 2008, a conferência do petróleo foi aberta pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. No ano seguinte, o governo Lula anunciou a implantação do sistema de partilha para exploração do pré-sal. A então toda-poderosa ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff — que àquela altura já era apontada como pré-candidata do PT à sucessão de Lula — brilhou apresentando o pacote de medidas, falando da necessidade de investir a riqueza do pré-sal em educação. Para a solenidade, o governo reservou o Centro de Convenções, em Brasília. Ali, um vídeo e vários discursos deram aos brasileiros aquela ideia de “agora vai”, de “Brasil pra frente”.

No embalo do marco regulatório do pré-sal, a Rio, Oil & Gas 2010, ano eleitoral, bateu recordes de negócios. Naquele ano, os jornais mencionaram R$ 176 milhões em negócios fechados durante a feira. Este ano, na primeira feira do governo Dilma Rousseff, as projeções do setor indicam R$ 152,8 milhões nessas rodadas de negócios. E só não foi menor, porque, em meio à Conferência, o governo anunciou que, em 2013, vai retomar as rodadas de licitação de áreas para exploração de petróleo. Esses certames estão suspensos desde 2008, quando o governo preparou o marco regulatório do pré-sal. A votação daquelas medidas não foi concluída até hoje no Congresso Nacional, por causa da batalha em torno dos royalties do petróleo.

Dentro do governo, há a nítida sensação de que, se nada for feito ainda este ano para tirar a roda do petróleo do atoleiro, a imagem de “agora vai”, criada naquela solenidade de 2009, será o feitiço contra o feiticeiro. Por isso, o governo e, por tabela, o Congresso, terão que enfrentar esse debate dos royalties tão logo termine as eleições municipais. Há um consenso geral de que nesse setor que serviu de combustível à candidatura de Dilma não pode patinar.

Na conferência do petróleo de 2012, entretanto, chegou ao ponto de a presidente da Petrobras, Graça Foster, usar o seu discurso no encerramento da feira para cobrar o cumprimento de prazos. Para bons entendedores, está claro que o momento não é de festa. Afinal, encerrar um evento com cobranças em vez de agradecimentos indica que algo está fora do script. E, mais adiante, a conta virá. Se o eleitor chegar ali na frente e achar que essa história de exploração do pré-sal foi apenas marketing, a popularidade de Dilma pode sofrer alguns abalos no futuro. E é justamente isso que o governo pretende evitar a partir de agora.

Enquanto isso, na sala de Dilma…
A presidente da República não vai deixar que citem seu nome no julgamento do mensalão sem que ela rebata o que considerar abusivo. A primeira foi a nota divulgada na última sexta-feira, em que Dilma rebateu a conclusão do relator Joaquim Barbosa sobre o fato de ela ter ficado surpresa com a aprovação do marco regulatório da energia em tempo recorde. Se houver novas colocações a respeito, serão respondidas. Talvez não esta semana, quando a presidente passará três dias em Nova York. Estaremos lá para acompanhá-la.

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