O GLOBO - 16/08
Fico muito admirada sempre que leio matérias em que colegas esgrimem, com desenvoltura, números e parágrafos de lei. A única lei que conheço com intimidade é a Lei de Murphy - aquela que diz que, se alguma coisa pode dar errado, com certeza dará. Sei que ela vive à espreita e ataca quando menos se espera. Terça-feira, por exemplo: sentei para escrever esta coluna e estava pondo os pensamentos em ordem quando o eletricista que instalava um ventilador na sala veio consertar a tomada do computador no escritório, que estava meio solta na parede. Coisinha rápida, simples aperto de parafusos.
Desliguei a máquina e passei o espaço para ele. Em menos de dez minutos, a tomada estava consertada, e tudo funcionava a contento - com exceção do computador, que morreu sem dar um pio. Como explicar isso? Ele foi desligado segundo todas as regras e saiu do ar educadamente. Liguei para o Marcelo Temporal, seu veterinário, e chegamos à conclusão de que a fonte foi para o espaço. Justamente quando preciso escrever a coluna, justamente quando um eletricista mexeu na sua tomada - à qual, diga-se, nem estava conectado no momento. Murphy típico.
Já passava muito da hora do almoço. Botei um ovo para cozinhar, liguei desesperada para o jornal avisando que talvez não tivéssemos crônica esta semana, tirei o notebook do armário, religuei os cabos da internet para não ficar desligada do mundo, conectei e desconectei diversos outros cabos para ver se, por milagre, o PC ressuscitava, peguei um pano na área para limpar a poeira dos cabos mais escondidos com os quais ninguém mexe nunca (muito menos a faxineira), lavei as mãos, voltei para o escritório, telefonei novamente para o jornal para avisar que sim, teríamos coluna, posto que a internet felizmente estava de volta e, enfim, sentei para trabalhar.
Abri o MacBook Air e, como sempre acontece quando preciso dele, fiquei dando tratos à bola para descobrir como executar os comandos mais simples, já que estou fazendo o que sempre recomendei aos meus leitores que não façam, ou seja: trabalhar com dois sistemas diferentes. Acontece que, quando comprei esse notebook, ele era o mais leve do mercado e imaginei que, àquela altura, eu já não sofreria tanto com as suas idiossincrasias. Pois imaginei errado. Se eu tivesse esperado um pouco mais, poderia ter comprado um notebook Windows igualmente leve, mas muito familiar e bem superior para escrever. Paciência; pior seria não ter notebook algum neste momento.
Mal começara a escrever quando ouvi estalos vindos da cozinha. Pulei da cadeira. Quando voltei, tuitei para a minha turma: "A @RobertaSudbrack nunca mais vai falar comigo. Acabo de queimar um ovo cozido - e uma panela."
Lei de Murphy mais uma vez, evidentemente. Mas, graças ao espírito de solidariedade que percorre o Twitter, descobri que não sou a única pessoa que consegue queimar água.
Vou viajar em setembro. Tinha vários destinos em mente, a começar por Vietnã, Laos e Camboja, o Uzbequistão e, sobretudo, o Egito, onde a chapa está quente mas, por isso mesmo, as atrações turísticas devem estar vazias. Desde criança sonho conhecer as pirâmides e o museu do Cairo. Como todo mundo, gosto de imaginar que sou uma pessoa firme, decidida e pouco influenciável. Bastou, porém, que minhas sobrinhas postassem umas fotos de Istambul no Instagram para que eu sentisse uma enorme saudade da Turquia, onde estive no começo do milênio. É isso, pensei. Vou realizar outro sonho, ir à Turquia, e ficar só em Istambul, flanando desocupada por aquela linda cidade, explorando cada cantinho fora de mão.
Nisso, Marcelo Balbio e Tony Oliveira foram para o Marrocos e passaram a postar lindas fotos de Marrakech e Essaouira. E eu logo mudei de ideia. É que já conheço a Turquia - mas nunca estive no Marrocos. Comecei a pesquisar cidades, roteiros e hotéis. Até que, almoçando com amigas, alguém deu a ideia de irmos ao casamento da filha de uma delas, em Londres. Faz tempo que não vou à Inglaterra com calma. Sempre passo por Londres a caminho de outro lugar, o que não é a mesma coisa do que ir com a disposição de ficar lá. Além disso, a cidade vive um ótimo momento, com a autoestima em alta por causa das Olimpíadas. De modo que decidi ir para lá. Antes que alguém viajasse para outro lugar e me fizesse mudar de ideia mais uma vez, comprei passagem, reservei hotel e vivo, agora, a inusitada experiência de saber, com tanta antecedência, para onde vou viajar. Está sendo divertido. Estou fazendo planos, estudando restaurantes e espetáculos em cartaz, sonhando com pequenas viagens ao campo. Pode ser até que consiga fazer as malas uns dois ou três dias antes de embarcar.
A funcionária exonerada de sua função gratificada por ajudar um gatinho a escapar da armadilha montada pela Sepda no prédio da prefeitura foi reconduzida ao cargo assim que o prefeito soube do caso. A famigerada armadilha, porém, continua na área.
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