quarta-feira, agosto 29, 2012

A culpa é da mãe - DENISE ROTHENBURG


COREIO BRAZILIENSE - 29/08

Geralmente, quando algo dá errado no futuro dos filhos, sempre surge alguém para apontar o indicador em direção à mãe dos rebentos. Não soube educá-los, não lhes deu atenção suficiente, sufocou-os de tantos carinhos e mimos e por aí vai. Sejam mães presentes ou ausentes, sempre sobra para elas uma parcela de culpa. No caso do PT não é diferente. Enquanto tudo ia de vento em popa para os petistas, Dilma Rousseff era a “mãe do PAC”, a gestora dentro do partido. Agora, com o julgamento da Ação Penal 470 e a dificuldade de arrecadação nas campanhas municipais, há entre os réus quem acredite que faltou um gesto da presidente nesses campos.

Antes do início do julgamento, Dilma falou com todos os ministros do governo e pediu a eles que mantivessem distância do Supremo Tribunal Federal enquanto seu partido estivesse sob fogo cruzado. E foi incisiva — bem ao seu estilo — ao dizer que não queria ver nenhum deles tratando de arrecadação de campanha. Dentro do PT dilmista, há quem diga que já bastam os constrangimentos causados ontem pelo ex-diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) Luiz Antonio Pagot, ao depor na CPI do Cachoeira. Pagot confirmou que fez pedidos de doações à campanha presidencial de 2010. Ora, e podia alguém com cargo no governo fazer pedidos para doações de campanha?

Por essas e outras, não se tem notícia de que tenha feito qualquer gesto em favor de arrecadação para seu partido ou pedidos a ministros do Supremo Tribunal Federal. Agiu dentro do que se espera de uma chefe do Poder Executivo. Dentro do governo, há a certeza de que o PT que administra o Planalto é o pós-mensalão, sejam os personagens da trama considerados culpados ou inocentes. Aliás, se fosse de outro jeito, Dilma não teria sido guindada à Casa Civil, tampouco virado a candidata de Lula a presidente da República.

Essa avaliação, entretanto, não é suficiente para aqueles que estão hoje com as fotos estampadas todos os dias como réus da Ação Penal 470. Em conversas reservadas, eles consideram que só um milagre salvará hoje o deputado João Paulo Cunha (PT-SP) de uma condenação por conta do saque de R$ 50 mil. Afinal, para que isso aconteça, ele precisa ter quatro dos cinco votos que faltam. É tão difícil quanto ganhar na Mega-Sena.

Diante dessa constatação e do receio do que possa vir mais para frente quando confrontam os votos dos ministros, há, entre os políticos envolvidos no caso, quem diga que Rosa Weber e Luiz Fux, ministros indicados pela presidente, deveriam ter sido contatados. Parecem se esquecer da confusão formada quando o ex-presidente Lula conversou com o ministro Gilmar Mendes, há alguns meses. Pois quem conhece a fundo a presidente Dilma garante que, da parte dela, não tem conversa sobre esse tema. E nem sobre financiamento de campanha. Um partido marcado pela confusão do mensalão não pode se dar ao luxo de ver a chefe da nação, que carrega hoje a sua estrela, misturando-se com julgamentos e arrecadação de campanha. Mas, infelizmente, há, entre os petistas, quem reclame da ausência de um empurrãozinho da presidente nesses campos.

Por falar em estrela…

Publicitários experientes que andaram pela cidade de São Paulo nos últimos dias notaram que o material de campanha de Fernando Haddad não destaca a sigla do Partido dos Trabalhadores, apenas a estrela e o número 13. Com a enxurrada de menções a “mensalão do PT” na tevê, a sigla do partido foi deixada de lado. Um gesto que indica o grau de preocupação da imagem da legenda com o julgamento.

Por falar em gestos…

No plenário do Senado, ontem à tarde, era nítida a desenvoltura do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), entre os senadores. Na hora de maior movimento, por volta das 17h, ele estava rodeado por colegas de vários partidos, feliz da vida. Para quem entende a linguagem de sinais que volta e meia toma conta daquele ambiente, está cada vez mais claro que Renan é o número um para suceder José Sarney (PMDB-AP). E só larga essa posição se quiser. Sua pré-campanha já entrou inclusive na contagem de votos. Vamos acompanhar.

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