REVISTA VEJA
Os ministros do STF A qualidade do julgamento que eles fizerem definirá o grau da evolução política do Brasil
São raras as vezes em que determinada geração tem a oportunidade de vivenciar WJf a história sendo feita. O julgamento dos 38 réus do mensalão, que começa na próxima quinta-feira no Supremo Tribunal Federal(STF), em Brasília, é um desses episódios com força para atrasar ou acelerar, dependendo de sua qualidade, os processos históricos da evolução política do Brasil.
A história de um país e de um povo é feita de fatos. É sobre eles que os historiadores se debruçam na tentativa de encontrai- um fio condutor que os ligue em uma sequência lógica cujo somatório é o que chamamos de nação.
O mensalão foi um fato. Foi um gigantesco arranjo partidário, financeiro, empresarial em que parte das elites governantes do Brasil no primeiro mandato de Lula se pôs de acordo sobre o uso de dinheiro de diversas origens, quase todas elas espúrias, para comprar ou manter o apoio ao Palácio do Planalto de parlamentares e partidos tradicionalmente mercenários.
Inédito? Não. Mas nunca se tinha tentado uma operação daquela envergadura com a instalação no coração do mundo político de um mecanismo de mercado negro de consciências em troca de dinheiro. Políticos iam
e vinham de agências bancárias para receber quantias em dinheiro vivo; os mais destemidos assinavam recibos ou pediam à mulher para fazê-lo; os de nervos fracos inventavam despesas falsas de consultores, agências de propaganda ou assessores de imprensa. Quem não tinha tanta iniciativa podia contar com os serviços financeiros do esquema, que fornecia recibos assinados por secretárias, motoristas, laranjas arrumados às pressas. A capital do país foi tomada por um furor argentário que o então deputado Roberto Jefferson, figura-chave no desmantelamento do mensalão, descreveu com sua voz de barítono: “ratos magros!”.
VEJA foi o órgão de imprensa que primeiro revelou o arran jo, com a divulgação de um vídeo em que o diretor dos Correios embolsava um maço de cédulas como propina. O diretor era ligado a Jefferson, que, para não cair sozinho, relatou a extensão dos crimes de repasse de dinheiro a parlamentares e chamou pela primeira vez o processo de mensalão.
Sete anos depois, desbaratada a “quadrilha”, nas palavras de Antonio Fernando de Souza, o então procurador-geral da República, o STF começa a julgar responsabilidades. O que está em jogo não é apenas o destino das 38 pessoas acusadas. O que está em jogo é que página da história nossa geração escreveu neste começo do século XXI — uma página que pode nos envergonhar ou da qual nós, nossos filhos e netos vamos nos orgulhar.
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