FOLHA DE SP - 20/05
Sem uma solução para as desconfianças em torno do sistema financeiro não haverá crescimento
O presidente Barack Obama subiu à onda pró-crescimento que está encorpando no mundo desenvolvido, ao se preparar para a cúpula do G8, ontem encerrada em Camp David.
Não chega a ser novidade, a não ser pelo fato de que tem, agora, um companheiro de certa força, o presidente francês, François Hollande, quando antes a França subordinava-se, com Nicolas Sarkozy, à rigidez da Alemanha de Angela Merkel.
Pequena recapitulação: desde que a grande crise de 2008/09 pareceu dar uma amainada, havia um debate no G20, de que o G8 passou a ser uma espécie de trailer, entre os que defendiam a necessidade de manter as medidas de estímulo adotadas no auge da crise (EUA e Brasil, principalmente) e os que achavam que já era hora de passar para outra conversa, a da redução das dívidas e dos deficit (Alemanha à frente). Não foram poucos os auxiliares de Obama a lembrar que, na grande crise anterior (1929), a retirada prematura dos estímulos conduzira a um repique terrível que arrastou o problema por anos a fio. Temiam um repeteco agora.
Tinham razão, embora possa se discutir se o repique da crise se deu por culpa exclusiva da supressão dos estímulos, que, de resto, nem foi universal. A Europa, sim, entrou na trilha da austeridade e, por coincidência ou não, é a única área do planeta realmente encalacrada.
O problema é que o crescimento -ou a falta dele- é apenas um dos lados da equação. O outro -a crise do sistema financeiro- pouco é mencionado, ainda que seja igualmente grave. O fato é que os bancos, pelo menos os europeus, não estão cumprindo a sua função essencial, a de engraxar as rodas da economia, por um problema de desconfiança entre eles próprios.
Só pode haver desconfiança quando o "Financial Times" informa o seguinte: a unidade do JPMorgan no centro das perdas de US$ 2 bilhões construiu posições que totalizam mais de US$ 100 bilhões em produtos complexos e arriscados, "que estiveram no centro da crise financeira de 2008".
Tais posições -completa o jornal- somam-se aos créditos em derivativos que levaram às perdas e, em consequência, a uma investigação sobre o banco.
Posto de outra forma: o JPMorgan ainda tem em suas entranhas os tais ativos tóxicos que foram a verdadeira causa da crise.
A dívida e o deficit dos Estados, salvo no caso da Grécia, só se tornaram críticos porque o poder público foi obrigado a socorrer o sistema financeiro para evitar o colapso. Essa é a narrativa da crise que a banca escamoteia.
Como o JPMorgan não é caso único, ou se enfrenta o entupimento da banca ou não se consegue realmente crescimento sustentável e forte.
É por isso que Randall Henning (Peterson Institute, Washington) escreve que os países não europeus do G8 (EUA, Canadá e Japão) deveriam convencer a Europa da necessidade de uma agenda de crescimento, mas também a de mover-se rumo a uma solução pan-europeia do problema bancário, de modo preventivo.
Está claro, pois, que crescimento e saneamento da banca andam de mãos dadas.
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