Depois de muito bater cabeça, a oposição considera ter encontrado finalmente uma fresta capaz de lhe fazer enxergar um futuro promissor: o fraco desempenho da economia projetado nos últimos dias pelo Banco Central — associado às vaias que a presidente Dilma Rousseff recebeu na última quarta-feira, na Marcha dos Prefeitos —fez com que os tucanos começassem a trabalhar um jeito de tentar usar a força de Dilma contra ela mesma. Não por acaso, o senador Aécio Neves, apresentado como pré-candidato do PSDB, começou a semear esse discurso justamente pelo Nordeste, onde Lula é tido como o rei.
A semeadura de Aécio no território de Lula teve seu primeiro ensaio na capital pernambucana, na última sexta-feira. Um dos alvos foi o Brasil Carinhoso, o programa que a presidente Dilma Rousseff lançou na última quarta-feira. E é interessante notar como desfere golpes, sem sequer citar Dilma ou o programa. O senador apenas disse que um gesto realmente carinhoso para o Brasil seria cobrar menos impostos das empresas de saneamento para que elas pudessem investir nesse serviço mais do que pagam de impostos de forma a cobrir o Brasil com uma ferramenta fundamental para a saúde — hoje, apenas 50% do Nordeste tem saneamento básico.
Por falar em impostos…
O encontro no Recife foi obra do PSDB Mulher e deveria apenas aquecer as candidatas para as eleições que vêm por aí. Mas para a oposição, em busca de um discurso capaz de tocar fundo na alma das pessoas, o teste para ver se a fala de Aécio surte algum efeito no eleitorado foi mais além, no sentido de sensibilizar os prefeitos e candidatos da oposição e de aliados. Nunca é demais lembrar que muitos partidos desmanchados em juras de amor à presidente no Planalto não veem a hora da troca de comando.
Por isso, nessas eleições municipais, Aécio surgirá defendendo a “refundação da federação” junto a candidatos dos mais variados partidos quando estiverem coligação com o PSDB. Esse nome pomposo traz embutido um processo ainda no nascedouro. Basicamente, consiste em secar o caixa com o qual o PT inunda as bases políticas enquanto as obras do PAC perdem ritmo.
A ideia é espalhar pelo país a chama da descentralização, denunciando a concentração de recursos nas mãos da União, onde quase 70% dos impostos terminam. E quando há algum incentivo ao contribuinte, seja para compra de carros, ou a chamada linha branca, o corte se dá justamente naqueles impostos que a União — toda poderosa — divide com os municípios.
Por falar em municípios…
Ok, leitor, você pode achar que essa conversa de divisão dos impostos é antiga e que o Congresso jamais vai mexer nas contribuições exclusivas da União para reparti-las com os estados e municípios. Mas tudo é uma questão de oportunidade. Terminadas as eleições municipais, os prefeitos sempre correm para Brasília em busca de projetos. Ao contrário da marcha desse mês, recheada de “patos mancos”, ou seja, prefeitos em final de mandato sem direito à reeleição, os que virão no período pós-eleitoral chegarão cheios de moral. Recém-eleitos, serão peças da engrenagem da eleição dos próprios congressistas em 2014.
Imaginem eles chegando em Brasília com um senador jeitoso no trato da política abraçado à pauta municipalista? Você pode até achar que isso não terá efeito algum, mas não dá para esquecermos que tudo no Brasil é um processo de amadurecimento, no estilo água mole em pedra dura. E tudo isso somado à irritação da própria base parlamentar de Dilma no Congresso pode estar aí o caldo grosso para empurrar essa descentralização de verbas para fortalecimento dos municípios, hoje repleto de responsabilidades sem a contrapartida financeira para realização dos serviços.
Por falar em dureza...
É interessante notar a forma como Aécio apresenta esse discurso. Sem raiva ou ódio nos olhos. Ele se coloca de forma firme, porém leve. Jamais deixa de se mostrar de forma positiva nos eventos públicos, carregando invariavelmente um sorriso — um contraponto ao comportamento da presidente da República, mais fechado e impaciente por natureza.
Se isso vai dar certo, não se sabe, mas Aécio agora parece mais imbuído dessa missão de liderar o PSDB pelo país afora. Caberá a ele tentar levar ao público já nesta temporada eleitoral a imagem de um governo federal com obras arrastadas no tempo, apesar de ficar com quase todos os impostos. A ordem é jogar no colo do governo federal as mazelas municipais. Afinal, se Dilma tem as verbas, a oposição quer que ela fique também com a mancha do insucesso.
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