CORREIO BRAZILIENSE - 30/04/12
Quem resolver fotografar o cenário político nacional como quem clica uma praia por uma lente panorâmica terá a sensação de que os políticos são todos iguais. E, nesse sentido, não há como deixar de dar certa razão ao ex-presidente Lula. Ele vislumbrou a CPI que irá investigar as relações do bicheiro Carlos Cachoeira como um portal para empastelar o caso do mensalão e embaralhar as peças. Parece que conseguiu pelo menos colocar todos no mesmo barco.
A CPI nem começou e já é possível afirmar sem medo de errar que as peças estão embaralhadas ao ponto de colocar toda a política no mesmo balaio. As relações de Cachoeira são tão intrincadas e espalhadas, que formam trilhas para vários partidos. A cada dia somam-se novas autoridades na roda das suspeitas. As gravações servem tanto para alguns políticos espetarem seus adversários mais diretos como para constranger pessoas, até mesmo dentro do Judiciário.
Nesse clima, os petistas apostam que o eleitor verá o mensalão e até mesmo o seu julgamento, como um caso a mais, igual a tantos outros. Se for assim, Lula terá conseguido atingir parte de seu objetivo, uma vez que, a distância, tudo está meio parecido. As notícias ascendem e derrubam personagens em questão de horas.
Por falar em horas...
No último fim de semana, a bola da vez foi o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, do PMDB, e suas relações com o antigo comandante da Delta Engenharia Fernando Cavendish. A divulgação das andanças parisienses da dupla jogou por terra a estratégia dos partidos de não chamar logo os governadores para depor. E veio do próprio PMDB, de viva-voz, o pedido para que Cabral compareça à CPI e preste esclarecimentos.
Assim, ficará difícil não colocar no mesmo banco Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás. E quanto mais perto do período eleitoral, pior ficará para seus partidos. Portanto, há quem defenda que eles falem o mais breve possível, enquanto a eleição ainda permanece longe da cabeça do eleitor.
Por falar em eleição...
A aposta de Lula é a de que a tendência da CPI, a curto prazo, é se dedicar às relações de Cachoeira em Goiás, no Distrito Federal e no Rio de Janeiro. Quanto ao DF, não há eleições este ano. No Rio e em Goiás, os governos não são do PT. Ou seja, onde o assunto pode “pegar” eleitoralmente, os petistas se consideram fora do olho do furacão.
E, para completar, avaliam aliados do ex-presidente, o PT tem hoje maior número de filiados no país. Portanto, terá mais vozes em sua defesa pelo Brasil afora em caso de problemas. Sendo assim, basta o eleitorado ver o mensalão como um caso a mais, em meio a tanta confusão, para que os petistas assegurem uma vantagem na hora de buscar o voto. Quanto ao governo federal, a aposta é a de que a popularidade de Dilma é suficiente para evitar maiores estragos.
Na teoria, a avaliação dos petistas pode parecer lógica e perfeita. Falta, entretanto, combinar o jogo com o eleitorado, que não costuma avaliar suas escolhas municipais pelo que ocorre no plano federal ou mesmo estadual. Mas há anos não se tem uma eleição tão “colada” no tempo com uma CPI. O momento é de observar.
A CPI mal começou, mas as peças se embaralharam ao ponto de colocar a política como um todo num mesmo balaio. Até separar os mocinhos, estaremos às vésperas da eleição municipal
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