Enquanto o terreno político anda meio acidentado para o setor privado em muitos dos países do continente sul-americano, os projetos de infraestrutura acendem o interesse privado, a ponto de animar uma das mais influentes associações empresariais da região, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a embarcar no plano de integração da União das Nações da América do Sul (Unasul), de "projetos prioritários de integração". Até agora, a única resistência manifestada contra o setor privado nessa agenda prioritária veio, não surpreendentemente, da Argentina.
Calculados inicialmente pela Unasul em quase US$ 14 bilhões, os 31 projetos, com quase 90 obras, de transportes, energia e telecomunicações, escolhidos por 12 governos da região, superam, na verdade, US$ 21 bilhões, pelos cálculos da Fiesp, que vê a possibilidade de "mudar a cara do continente" em matéria de produtividade e competitividade, segundo descreve o diretor do departamento de infraestrutura da Fiesp, Carlos Cavalcanti.
Cavalcanti liderou uma equipe, nos últimos dias, encarregada de levantar detalhes sobre os projetos identificados pela Unasul, e avaliar suas perspectivas de financiamento e execução. São projetos como os três corredores bioceânicos, que permitirão escoar a soja do centro do Brasil diretamente por portos no Pacífico, sem o passeio hoje obrigatório, até o litoral atlântico, de onde o produto é embarcado para a Ásia, seu principal consumidor.
Empresas se animam com os projetos de integração da Unasul
É um velho plano, o de integrar a infraestrutura da América do Sul; no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi um dos principais impulsionadores do projeto abrigado no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), conhecido pela sigla IIRSA, criticado, no entanto pelos governos seguintes, que viram nele uma excessiva concentração de investimentos planejados sob a ótica de corredores de exportação. O BID, sob a Unasul, tem dado suporte técnico, mas aumentou o número de projetos voltados ao desenvolvimento baseado nos mercados domésticos e distribuição de renda.
Hoje, a coordenação dessas obras, que exigirão sintonia entre os diversos governos da região, está com a Cosiplan, o conselho da Unasul para infraestrutura e planejamento. A Fiesp levantou informações sobre as fontes de financiamento, em instituições como o BID, a Corporación Andina de Fomento e o Fonplata, e marcos regulatórios nos países, para os investimentos eleitos como prioridade, que deverão estar totalmente concluídos nos próximos dez anos. "Existe dinheiro à vontade para essas obras", garante Cavalcanti.
As decisões dos governos sobre algumas delas ainda são uma incógnita, porém. Esse foi um dos pontos em que os enviados da Fiesp encontraram resistências na Argentina, onde foi difícil o contato com funcionários da secretaria do Planejamento - chefiada pelo mesmo Julio de Vido que esteve recentemente no Brasil sugerindo mais investimentos da Petrobras na Argentina. "Nos disseram que o diálogo com o setor privado atrapalha", relatou, desalentado, o diretor da Fiesp.
Não é um cenário cor-de-rosa o que atrai os empresários. Há falta de estudos ambientais em boa parte das obras, e incertezas sobre a viabilidade dos projetos de integração, que exigirão um nível de coordenação entre os governos até hoje inexistente: a construção de estradas por quatro países ligando os dois oceanos, por exemplo, exigirá acordos inéditos de transporte e alfândegas, para permitir a passagem de cargas e passageiros por essas vias sem engarrafamento na burocracia. O mercado de energia também demandará regras plurinacionais de compra e venda desse insumo.
Para Cavalcanti, essa é exatamente um dos atrativos dos projetos: com a viabilidade da construção de infra-estrutura integrando os países, os governos terão de discutir seriamente uma maior integração também em suas legislações e regulamentações nacionais. A Fiesp reunirá, nesta semana, em São Paulo, cerca de 180 executivos, de empresas de todo o continente, com representantes de governo como a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ministros ligados à área de infraestrutura do Peru e Colômbia e altos funcionários de outros países, para discutir a viabilidade dessas obras prioritárias e esclarecer as dúvidas do setor privado.
Cavalcanti é otimista, lembra como ganhou apoio em toda a vizinhança o projeto brasileiro de um anel de fibra ótica que dispensará as comunicações na região de passar por outros continentes. O aproveitamento do gás boliviano permitirá geração de pelo menos 2 mil megawatts de energia a serem vendidos no continente, sugere. "Nunca se tentou levar projetos como esses à frente de maneira tão articulada", crê o diretor da Fiesp, com base nas reuniões técnicas regulares do conselho técnico da Cosiplan. "A Unasul nos cria uma realidade política diferente."
Um certo ceticismo deve acompanhar essas expectativas, e os rompantes estatizantes da Argentina são só a demonstração mais recente da imprevisibilidade que cerca investimentos em alguns países da região. Mas a adesão entusiasmada da Fiesp à Unasul acrescenta um ingrediente novo à velha receita sul-americana de integração.
Calculados inicialmente pela Unasul em quase US$ 14 bilhões, os 31 projetos, com quase 90 obras, de transportes, energia e telecomunicações, escolhidos por 12 governos da região, superam, na verdade, US$ 21 bilhões, pelos cálculos da Fiesp, que vê a possibilidade de "mudar a cara do continente" em matéria de produtividade e competitividade, segundo descreve o diretor do departamento de infraestrutura da Fiesp, Carlos Cavalcanti.
Cavalcanti liderou uma equipe, nos últimos dias, encarregada de levantar detalhes sobre os projetos identificados pela Unasul, e avaliar suas perspectivas de financiamento e execução. São projetos como os três corredores bioceânicos, que permitirão escoar a soja do centro do Brasil diretamente por portos no Pacífico, sem o passeio hoje obrigatório, até o litoral atlântico, de onde o produto é embarcado para a Ásia, seu principal consumidor.
Empresas se animam com os projetos de integração da Unasul
É um velho plano, o de integrar a infraestrutura da América do Sul; no governo de Fernando Henrique Cardoso, o Brasil foi um dos principais impulsionadores do projeto abrigado no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), conhecido pela sigla IIRSA, criticado, no entanto pelos governos seguintes, que viram nele uma excessiva concentração de investimentos planejados sob a ótica de corredores de exportação. O BID, sob a Unasul, tem dado suporte técnico, mas aumentou o número de projetos voltados ao desenvolvimento baseado nos mercados domésticos e distribuição de renda.
Hoje, a coordenação dessas obras, que exigirão sintonia entre os diversos governos da região, está com a Cosiplan, o conselho da Unasul para infraestrutura e planejamento. A Fiesp levantou informações sobre as fontes de financiamento, em instituições como o BID, a Corporación Andina de Fomento e o Fonplata, e marcos regulatórios nos países, para os investimentos eleitos como prioridade, que deverão estar totalmente concluídos nos próximos dez anos. "Existe dinheiro à vontade para essas obras", garante Cavalcanti.
As decisões dos governos sobre algumas delas ainda são uma incógnita, porém. Esse foi um dos pontos em que os enviados da Fiesp encontraram resistências na Argentina, onde foi difícil o contato com funcionários da secretaria do Planejamento - chefiada pelo mesmo Julio de Vido que esteve recentemente no Brasil sugerindo mais investimentos da Petrobras na Argentina. "Nos disseram que o diálogo com o setor privado atrapalha", relatou, desalentado, o diretor da Fiesp.
Não é um cenário cor-de-rosa o que atrai os empresários. Há falta de estudos ambientais em boa parte das obras, e incertezas sobre a viabilidade dos projetos de integração, que exigirão um nível de coordenação entre os governos até hoje inexistente: a construção de estradas por quatro países ligando os dois oceanos, por exemplo, exigirá acordos inéditos de transporte e alfândegas, para permitir a passagem de cargas e passageiros por essas vias sem engarrafamento na burocracia. O mercado de energia também demandará regras plurinacionais de compra e venda desse insumo.
Para Cavalcanti, essa é exatamente um dos atrativos dos projetos: com a viabilidade da construção de infra-estrutura integrando os países, os governos terão de discutir seriamente uma maior integração também em suas legislações e regulamentações nacionais. A Fiesp reunirá, nesta semana, em São Paulo, cerca de 180 executivos, de empresas de todo o continente, com representantes de governo como a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, ministros ligados à área de infraestrutura do Peru e Colômbia e altos funcionários de outros países, para discutir a viabilidade dessas obras prioritárias e esclarecer as dúvidas do setor privado.
Cavalcanti é otimista, lembra como ganhou apoio em toda a vizinhança o projeto brasileiro de um anel de fibra ótica que dispensará as comunicações na região de passar por outros continentes. O aproveitamento do gás boliviano permitirá geração de pelo menos 2 mil megawatts de energia a serem vendidos no continente, sugere. "Nunca se tentou levar projetos como esses à frente de maneira tão articulada", crê o diretor da Fiesp, com base nas reuniões técnicas regulares do conselho técnico da Cosiplan. "A Unasul nos cria uma realidade política diferente."
Um certo ceticismo deve acompanhar essas expectativas, e os rompantes estatizantes da Argentina são só a demonstração mais recente da imprevisibilidade que cerca investimentos em alguns países da região. Mas a adesão entusiasmada da Fiesp à Unasul acrescenta um ingrediente novo à velha receita sul-americana de integração.
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