segunda-feira, março 12, 2012
Será Putin tão "mau" assim? - LUIZ CARLOS BRESSER PEREIRA
FOLHA DE SP - 12/03/12
Ele liderou a retomada econômica do país e fez os cidadãos voltarem a ter orgulho de serem russos
O Ocidente tem uma opinião sobre quais são os bons e os maus governantes nos países em desenvolvimento. São "bons" os dirigentes que abrem as portas de seus países para suas empresas multinacionais, para suas exportações e para as operações de suas instituições financeiras. São "maus" os que são nacionalistas e pensam em termos do interesse nacional de seus países; que buscam construir ou consolidar sua nação e garantir seu desenvolvimento industrial.
Vladimir Putin, que acaba de ser eleito presidente da Rússia com enorme maioria, está entre os maus. Não se chega a dizer que é um "ditador" -adjetivo de eleição para os governantes nacionalistas, mas geralmente esquecido quando se trata de um ditador "aliado"-, mas é qualificado de autoritário, de corrupto e de perseguidor de empresários por definição. Será o líder russo tão "mau" assim?
De tanto o Ocidente repetir suas críticas, elas parecem verdadeiras. E certamente há algo de verdade nelas. Mas é preciso considerar os resultados alcançados, o que podemos fazer, primeiro, comparando os oito anos do governo que o antecedeu -de Boris Ieltsin- com os primeiros oito anos do seu governo. E, em seguida, comparar os dois períodos com o Brasil. O crescimento do PIB nesses quatro períodos está no quadro ao lado.
Nos anos 90, Boris Ieltsin era um dos "heróis reformistas" do Ocidente. O único outro governante que com ele podia ser comparado era Carlos Menem, na Argentina, embora fosse sabidamente corrupto e estivesse frequentemente alcoolizado. Durante seu governo, o PIB da Rússia, naquela época inteiramente subserviente ao Ocidente, caiu 24,8%. Foi um desastre nacional.
Nesses anos, o número de suicídios no país aumentou exponencialmente. Já nos oito anos seguintes, sob Putin, o PIB cresceu 83%, e os padrões de vida melhoraram.
Não é difícil, portanto, compreender por que o povo russo tem lhe dado um apoio tão forte. Ele não só liderou a retomada do desenvolvimento econômico; também fez os russos voltarem a se orgulhar de serem russos. E isso não é pouco.
Mas não era de se esperar para a Rússia esse crescimento extraordinário? Se fosse, seria também de se esperar para o Brasil. Afinal, os dois países são Brics. Entretanto, enquanto entre 2000 e 2008 o PIB brasileiro cresceu 38,8%, o russo cresceu mais que o dobro. Parte do crescimento russo foi para recuperar a perda. Deixemos dois anos de lado e comparemos o período de 2002 a 2010. O resultado é ainda favorável aos russos: 36,6% para o Brasil contra 44,8% para a Rússia, não obstante esta tenha sido atingida mais duramente pela crise de 2008.
Logo, considerando-se os dados apresentados, fica difícil considerar Vladimir Putin "mau", e o povo russo, incompetente por elegê-lo. Não poderíamos, então, recorrer ao critério ético? Esse não é o critério do Ocidente, mas pode ser o nosso.
Mas é preciso considerar que os grandes políticos raramente são santos. São sempre ambiciosos, implacáveis com seus adversários e nem sempre muito honestos, mas muitos combinam esses defeitos com competência e espírito público. Logo, se julgarmos os políticos apenas de acordo com critérios éticos, teremos que rejeitar muitos que sempre consideramos estadistas.
Ao avaliarmos os governantes, é mais razoável ver aquilo que eles realmente fazem por seus países.
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