FOLHA DE SP - 09/03/12
O total de pobres caiu em todas as partes do mundo, da África à América Latina, da Ásia à Europa oriental
Israel vai bombardear as instalações nucleares do Irã? Se a Grécia desabar, a Europa vai mergulhar num caos econômico que desestabilizará o planeta? A China vai sair dos trilhos?
A lista de perguntas baseadas nos prognósticos mais lúgubres é muito longa. Sobram más notícias. Surpreende, portanto, que as boas notícias não sejam mais comentadas. E nestes dias o mundo recebeu uma notícia muito boa. O número de pobres caiu substancialmente em todas as partes do mundo.
Isso mesmo: segundo este relatório recente do Banco Mundial, entre 2005 e 2008, desde a África subsaariana até a América Latina e desde a Ásia até a Europa Oriental, a proporção de pessoas que vivem na pobreza extrema (com renda inferior a US$ 1,25 por dia) diminuiu.
É a primeira vez que isso ocorre desde o início da coleta sistemática de dados sobre a pobreza.
Esse resultado é ainda mais surpreendente porque a diminuição ocorre em meio à crise econômica mais profunda vivida pelo mundo desde a Grande Depressão de 1929.
De fato, em 2010 o próprio presidente do Banco Mundial manifestou preocupação grave com o impacto que a crise teria sobre a pobreza e informou que seus especialistas estimavam que a crise aumentaria o número de pobres em dezenas de milhões de pessoas. Por sorte, as previsões foram equivocadas.
Tanto é assim que o mundo alcançará antes do previsto as metas de redução da pobreza definidas nas Metas de Desenvolvimento do Milênio acordadas por 193 países da ONU em 2000. Uma dessas metas era reduzir, até 2015, a pobreza extrema pela metade. Pois bem, ficamos sabendo que essa meta já foi alcançada -cinco anos antes!
A explicação para isso é que os países mais pobres e populosos conseguiram manter sua expansão econômica e continuaram a gerar empregos que permitem a seus habitantes ter renda maior.
Além disso, essa não é uma história apenas sobre China, Índia, Brasil ou as outras superestrelas dos emergentes. É também a da África.
De acordo com outro estudo, dos economistas Maxim Pinkovskiy e Xavier Sala-i-Martin, entre 1970 e 2006 a pobreza na África diminuiu -muito rapidamente.
Baseada numa análise cuidadosa, a conclusão é que na África todos os países, incluindo aqueles com desvantagens geográficas e históricas, reduziram a pobreza.
"Esta diminuiu tanto nos países sem litoral como naqueles com extensas zonas costeiras; em países ricos em minerais e nos países que não os possuem, nos países que gozam de condições favoráveis para a agricultura e nos menos favorecidos. A situação é assim para todos, independentemente de suas diferentes experiências coloniais."
Tudo isso não quer dizer que não continuem a existir centenas de milhões de pessoas cujas vidas são tragédias inenarráveis. Ou que viver com renda diária de US$ 3 ou US$ 5, em vez do US$ 1,25, significa que essas pessoas desfrutem de padrões de vida aceitáveis. Nada disso.
A miséria continua a ser a condição "normal" para a grande maioria. Mas a situação está melhorando. E isso é uma grande notícia.
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