CORREIO BRAZILIENSE - 26/02/12
A presidente Dilma não vai dar corda aos políticos para discutir substituições de diretores e gerentes. Nem da Petrobras, nem do Banco do Brasil. E hoje residem nessas áreas as maiores insatisfações dos petistas com o governo
Dois setores-chaves da gestão da presidente Dilma Rousseff prometem causar muito barulho na política em 2012, especialmente, neste período pré-eleitoral: a Petrobras e o Banco do Brasil. Tudo porque seus presidentes, Graças Foster, da Petrobras, e Aldemir Bendine, do Banco do Brasil, resolveram fazer o dever de casa. Tiraram diretores e gerentes com um viés mais político para colocar no lugar perfis mais técnicos, seguindo exatamente o combinado com a presidente Dilma Rousseff.
As mudanças da Petrobras ocorreram pouco antes do carnaval. Graças Foster mal desfez as malas e colocou a mão na massa. Trocou não só o diretor de Exploração & Produção (E&P), Guilherme Estrella — indicado pelo PT de José Dirceu —, como o diretor de Gás e Energia. No caso de E&P, a ascensão de José Formigli ao cargo de diretor foi negociada com o braço petista, mas não de todo. O engenheiro Richard Olm, ligado à nova presidente, Graças Foster, saiu de uma gerência de logística de participação da área de gás e energia para a Gerência Executiva de E&P, responsável por projetos de desenvolvimento da produção. Ou seja, vai cuidar das plataformas, de olho nos passos do diretor.
Por falar em Exploração & Produção…
Essa diretoria há anos era o xodó dos políticos. Ao ponto de ser batizada pelo ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE) de “fura-poço”. Com menos influência política nessa seara, restou aos parlamentares a diretoria de Abastecimento, uma das poucas que ainda detêm poder de fato. A área internacional, onde o PMDB indicou o técnico Jorge Zelada, ainda no governo Lula, tem poder de fogo cada vez menor. Aos poucos, vem perdendo influência para outras diretorias como a de Gás e Energia e a de Exploração e Produção.
Essas mudanças não são para menos. A Petrobras tem investimentos de US$ 224 bilhões previstos até 2015. E tudo o que a presidente Dilma não quer ouvir é que houve favorecimento no desembolso de recursos, como volta e meia surgia em relação a organizações não governamentais baianas apontadas como beneficiárias de verbas da empresa durante a gestão do ex-presidente Sérgio Gabrielli.
Por falar em beneficiados…
Diante das mudanças na Petrobras, o PMDB ficou em alerta máximo no sentido de manter o presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Até agora, conseguiu. Para o cargo, estava cotado o mesmo Richard Olm que Graças Foster colocou na Gerência Executiva de Exploração & Produção. Até para evitar que a presidente da Petrobras volte a investir no sentido de substituir Machado, o PMDB não pretende reclamar das mudanças na Petrobras. Também não moverá um músculo por conta das substituições no Banco do Brasil. Acha que essa seara vai fazer sangrar o PT.
Em conversas reservadas, os peemedebistas preveem um período de embates internos entre a presidente Dilma e o PT por conta da Petrobras e do Banco do Brasil. Afinal, nesses assuntos, Dilma tende a dar sempre “ganho de causa” a Graças Foster; ao ministro da Fazenda, Guido Mantega; e ao secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa. Esses dois economistas são hoje a base do atual presidente do BB, Aldemir Bendine. Conforme noticiou o Correio pouco antes do carnaval, a troca de 13 diretores provocou uma guerra aberta no PT e respingou nos brios do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), que não digeriu as substituições.
Até o momento, a presidente Dilma não chamou Maia para falar sobre a troca de comando no Banco do Brasil e nada indica que irá chamar. Ela acredita que mudanças na entidade, como na Petrobras, obedeceram a critérios técnicos e não vai dar corda aos políticos para discuti-las. Logo, aqueles que ficaram insatisfeitos têm hoje dois trabalhos: o de reclamar e o de — como recomenda o humorista que imita a presidente num vídeo na internet “engolir o choro”. Se isso der problema político lá na frente, paciência. Dilma resolve depois. Ela, como diziam muitos pefelistas no passado, é do tipo que vive a cada dia a sua aflição. E a de hoje é consolidar um corpo mais técnico nessas áreas.
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