O GLOBO - 25/01/12
Não é por acaso que a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, abrirá o Fórum Econômico Mundial aqui em Davos. A Europa está no centro das discussões sobre como sair da crise atual, e enquanto os Estados Unidos parecem estar encaminhando uma lenta recuperação, a zona do euro não encontrou um consenso sobre como tratar o assunto de maneira conjunta.
O risco improvável, mas possível, de uma quebradeira europeia — como salientou o crítico do "Financial Times" Martin Wolff — faz com que seja imprescindível que a zona do euro chegue a um consenso sobre o que fazer, antes que uma piora da situação contamine a frágil recuperação americana e jogue o mundo em uma crise mais profunda.
Nos diversos painéis que discutirão a situação atual da crise econômica, um dos pontos mais fundamentais é a posição da Alemanha, que vem exigindo restrições fiscais cada vez mais rígidas dos outros membros da zona do euro, o que só faz aprofundar o clima de recessão previsto para este ano.
O que está em discussão é como promover o retorno do crescimento econômico sem sacrificá-lo pelo excesso de austeridade.
Como o país de economia mais forte e organizada da região do euro, a Alemanha está sendo instada a admitir que a esta altura da crise uma política de austeridade excessiva não ajudará a criar um clima propício para o surgimento de novos empregos.
A reação está vindo de diversos lados, inclusive do presidente da França, Nicolas Sarkozy, empenhado em uma difícil campanha de reeleição.
Atrás nas pesquisas, Sarkozy viu no domingo o candidato socialista François Hollande lançar as linhas gerais do que seria um programa de seu eventual governo anunciando, por exemplo, que seu "verdadeiro adversário" é o mundo das finanças, ou que criará uma nova alíquota de 45% do imposto de renda sobre os ganhos acima de 150 mil euros, "que não são da classe média", ironizou.
Mesmo com discurso classificado de "prudente", François Hollande demarcou algumas posições de esquerda, e o atual presidente francês joga com possibilidade de que a crise econômica possa fazer com que a maioria do eleitorado tenda a mantê-lo no cargo, com receio de mudanças bruscas num momento de fragilidade econômica.
Mas para isso precisa apresentar um plano que não seja apenas de austeridade, mas de perspectiva de criação de novos empregos, especialmente para os jovens, os mais atingidos pela crise.
Ele está pressionando Angela Merkel para não esquecer a carta do crescimento econômico sempre que falar sobre a necessidade de controle dos gastos públicos, e está anunciando a criação de um banco público de investimentos na indústria. Seu adversário François Hollande apossou-se da ideia, e deu nome a ela: criará o "banco da indústria".
Também o primeiro-ministro da Itália Mario Monti, homem de confiança das instituições financeiras, começa a se inquietar com a falta de perspectiva para a criação de empregos, e já anunciou medidas que vão além da simples contenção de gastos. Vai promover investimentos em obras de infraestrutura a fim de abrir mais empregos.
A preocupação com as exigências do mercado financeiro é tamanha que haverá uma mesa redonda com o tema "Bancos, cura ou maldição", com a presença do presidente do banco de investimentos Goldman Sachs, Gary Cohn, e o economista Nouriel Roubini, que continua advertindo para a possibilidade de o mundo entrar em uma recessão novamente.
Apesar de o banqueiro Vikran Pandit do Citigroup ter o papel de copresidente da reunião de Davos neste ano, e de alguns banqueiros importantes estarem presentes, como Urs Rohn, presidente do Credit Suisse e Brian Moynihan, do Bank of America — os três participarão de um painel —, vários banqueiros, especialmente europeus, não comparecerão, alguns alegando problemas urgentes para resolver em casa, como o novo comandante do BNP Paribas ou o do Lloyd´s, mas a maior parte temerosa de um clima, se não hostil, pelo menos questionador nos debates aqui em Davos.
O presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, por exemplo, será questionado por seu papel na crise, diferente do exercido pelo Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, que não tem poupado esforços para colocar mais dinheiro no sistema bancário, para revitalizar a economia.
A rigidez do Banco Central Europeu, que evita emprestar dinheiro diretamente a países e se mostra pouco flexível no trato da política monetária, é considerada uma das causas de o ambiente econômico europeu não ter dado sinais mínimos de recuperação.
A excessiva austeridade imposta pela Alemanha, e a inflexibilidade do Banco Central Europeu seria uma mistura explosiva no momento em que o mais importante seria estimular a criação de empregos.
A grande dúvida, que também paralisa os países da zona do Euro, é que quanto maiores forem os estímulos para o crescimento, mais aumentará a dívida dos países, reduzindo a perspectiva de resolver a crise.
Mas a já chamada "armadilha de austeridade" também não propõe uma solução, pois é impensável que países europeus admitam permanecer em recessão pelos próximos anos, eles que estão entrando em recessão pela segunda vez em três anos.
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