BRASÍLIA - A cena no Planalto ontem era toda simbolismo, um mar de poderosos e acólitos em concentração há muito não vista em Brasília.
Sob tratamento contra o câncer, Lula jogou no sacrifício e abriu ala sob ovação, incorporando uma versão tropicalizada do Marlon Brando sendo adulado em "O Poderoso Chefão". Dilma resignou-se por um momento ao antigo papel de sombra.
A saída de Fernando Haddad e a posse de Aloizio Mercadante marcaram mais do que uma transição no Ministério da Educação. Transmutaram-se no primeiro ato público da pretensa etapa final do projeto lulista de hegemonia política: conquistar, enfim, São Paulo, capital e Estado.
Lula inventou uma candidatura viável para Haddad, que, no mínimo, irá se tornar conhecido. Terá Dilma a defendê-lo como ontem e falta-lhe oposição hoje, mas a ausência de Marta Suplicy na posse é reveladora do que o espera em casa.
Mas Mercadante chama mais atenção. Após anos como boi de piranha do lulismo, parece que finalmente a sorte lhe sorriu. Será? Sua nova estatura é capaz de vitaminar uma nova candidatura a governador em 2014, ainda mais se a capital voltar para o PT.
Repete assim o tucano José Serra, que também sempre quis comandar a economia sob FHC e se viu catapultado a uma forte pasta social visando um projeto eleitoral. Não deu certo, mas isso é outra história.
Em sua autoimportância, aliás, Mercadante sempre foi uma espécie de Serra do PT. Sua tese de doutorado, que em plural majestático enaltecia os anos Lula, é nota cômica disso -para não lembrar da "renúncia irrevogável" de um dia de 2009.
O plano está dado e terá de enfrentar a realidade em São Paulo, ao menos em nível estadual, um reduto tucano. Mercadante terá de lidar também com a nova geração lulista (Haddad e Alexandre Padilha), além de consertar os erros em série na aplicação do Enem. Não é pouco.
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