VALOR ECONÔMICO - 13/01/12
Crescer 3,5% este ano pode significar crescer 4,6%. Ou seja, não é de todo impossível obter uma variação próxima a 5% para o PIB em 2012, conforme desejo do governo. Basta fazer uma leitura diferente, mas adequada, dos dados do IBGE.
Para isso é preciso olhar não a variação da média anual, que é contaminada pelo que ocorreu no ano anterior, mas o comportamento da atividade ao longo do ano (último trimestre comparado a igual período do ano anterior, com ajuste sazonal).
Em situações de normalidade, ambos os conceitos convergem. Em momentos de oscilações, verificar o desempenho "ao longo do ano" é mais revelador da temperatura da economia. É o que sugere o economista e ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes da consultoria Macrométrica.
Devagar, o BC deve testar os juros para baixo
Por essa ótica, o PIB em 2010 cresceu 5,3%, enquanto que pela média o aumento foi de 7,5%. No ano passado, sua estimativa é que o PIB tenha sido de 2% e de 2,9%, respectivamente. E, em 2012, sua projeção é que o crescimento seja de 3,6% na média e de 4,6% ao longo do ano.
"Como não poderia deixar de ser, a medida da variação percentual ao longo de quatro trimestres sobe muito mais rapidamente que a medida da variação percentual da média de quatro trimestres, já que a segunda é apenas uma média móvel ponderada da primeira", explica ele.
Francisco Lopes lembra que o crescimento trimestral do PIB com ajuste sazonal ficou aquém de 1% já a partir do terceiro trimestre de 2010 e caiu para zero no terceiro trimestre de 2011. Ao contrário dos argumentos usuais para essa acentuada redução ainda em 2010, focados nas consequência das medidas de contenção monetária, o economista avalia que essa é apenas uma parte da explicação e não necessariamente a mais relevante. "A outra parte, a nosso ver possivelmente mais importante, tem a ver com a própria dinâmica interna da macroeconomia."
Nesse ponto, ele faz uma avaliação crítica dos complexos modelos matemáticos usados pelos economistas, atualmente, mas que adotam a "hipótese simplista" de que o processo tem uma dinâmica "não oscilatória": o que acontece a cada momento é determinado pelo que ocorreu no passado recente.
"Não se estuda mais os velhos modelos keynesianos do ciclo dos negócios, com a interação entre multiplicador e acelerador, com o movimento dos estoques a la Metzler, ou com os gatilhos e mudanças de regime de um modelo não linear como o trade cycle de Hicks", descreve ele num trabalho sobre crescimento em 2012.
A partir desses modelos, é possível concluir que períodos de forte expansão da produção tendem a ser seguidos por outros, de retração, já que as empresas costumam exagerar na produção e acumulam altos estoques nas fases de otimismo. Foi o que ocorreu, segundo ele, entre 2004 e 2005. A forte expansão de 2003/04 foi acompanhada por planos de produção excessivamente otimistas e forte acumulação de estoques, levando 2005/06 a uma desaceleração compensatória.
Ele sustenta que a participação do aumento de 400 pontos-base da taxa Selic entre 2004 e 2005 teve pouca consequência no esfriamento da economia, dadas as defasagens da política monetária. O PIB já havia desacelerado no terceiro trimestre de 2005, quando o impacto dos juros começaria a ser sentido.
Dada a precariedade das estatísticas sobre estoques no país, essa é uma constatação empírica que pode ser transplantada para os anos mais recentes: após a queda da produção e redução de estoques de 2008, no auge da crise global, o ano de 2009 e o início de 2010 foram caracterizados por um forte crescimento da atividade econômica e intensa reposição de estoques. Para Francisco Lopes, ambos os movimentos foram exagerados, levando a um ajuste à realidade a partir do quarto trimestre de 2010.
O gráfico abaixo é um indicativo de que o faturamento real foi maior que o crescimento da produção por causa da venda dos estoques acumulados anteriormente, argumenta. Para o economista, tanto suas projeções quanto as expectativas do mercado sugerem que o processo de ajuste do planejamento da produção se completou em 2011 e que, portanto, a atividade voltará ao seu padrão normal este ano: crescimento de 4% a 4,5% para o PIB e de 5% a 5,5% para a indústria.
A partir dessas análises, Francisco Lopes alerta que seria um erro o governo acionar novos instrumentos de política fiscal e de crédito para reanimar a economia este ano, pois ela não está estagnada. Medidas nesse sentido viriam superaquecer a atividade e prejudicar o controle da inflação, inviabilizando o trabalho do Banco Central de redução dos juros.
"O que o Banco Central está fazendo é muito bom, muito legal. Acho que ele pode ir [reduzindo a Selic], talvez mais devagar agora, mas tem que testar os juros para baixo", conclui.
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