sexta-feira, dezembro 09, 2011

O Pará, Plutão, o euro - GUSTAVO PATU


FOLHA DE SP - 09/12/11

BRASÍLIA - No berço da civilização, já deixaram para trás o marco alemão, a lira italiana, o franco francês, a Iugoslávia, a Tchecoslováquia, o Muro de Berlim.

Neste domingo, haverá plebiscito para decidir se o Pará continuará proporcionando simetria ao mapa da região Norte ou se o Amazonas se tornará uma mancha desproporcionalmente grande, cercada de Estados menores. Pelas últimas pesquisas, tudo deverá ficar como está, mas que ninguém se sinta seguro.

Há apenas cinco anos, chegaram ao extremo de reunir 2.500 astrônomos em uma semana de controvérsias para acabar decidindo que Plutão não era mais um planeta, ao contrário do que se acreditava desde 1930 -não sem antes estudar a alternativa de promover corpos celestes como Ceres, Caronte e Xena ao primeiro escalão do Sistema Solar.

Se cientistas batem boca em torno do que se deve ou não chamar de planeta, convém examinar com atenção o chão em que se pisa e avaliar com realismo a capacidade de determinar qual o papel e a extensão adequada de uma unidade da Federação. Ou como alguém consegue calcular o deficit orçamentário do hipotético Estado de Carajás. E o impacto sobre a economia global se a Grécia abandonar o euro e voltar à dracma.

Talvez o incômodo no caso venha da necessidade de fazer escolhas sem clareza quanto aos prós e contras, se uma oportunidade única ou a catástrofe. Deve ser por isso que tantas consultas mantêm a situação vigente. Presidencialismo ou parlamentarismo, proibir ou não o comércio de armas. Os gregos foram inventar moda e deu no que deu.

Talvez seja constatar que divisas e fronteiras, entre as quais se vive e com as quais se procura identificação, são meros arranjos políticos, temporários e casuísticos. Não são diferentes as moedas em que ancoramos nossa riqueza. E ninguém sabe direito o que são essas pedras e gases girando em volta do Sol.

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