sexta-feira, dezembro 09, 2011

O diploma e o faro - LUIZ GARCIA


O GLOBO - 09/12/11
Faço coro com a opinião do jornal contra a proposta de emenda constitucional que restabelece a exigência de diploma de jornalismo para o exercício da profissão.

É briga antiga: as empresas jornalísticas insistem no direito de ter em suas redações pessoas com formação em outras profissões - ou mesmo sem curso universitário algum.

Essa posição não significa, o que é óbvio, um desprezo pelas escolas de jornalismo. Muitas delas formam excelentes profissionais, outras nem tanto - o que obviamente é verdade em todos os cursos. Seja como for, é importante ficar bem claro que o diploma universitário sempre ajuda o jovem profissional a conseguir lugar numa redação. Principalmente se ele estudou numa universidade de boa reputação.

Mas não se pode esquecer: em casos não raros, a falta do diploma de curso superior não impede que jovens focas - apelido tradicional dos que se iniciam na profissão - venham a ser excelentes jornalistas.

É claro que a passagem pela faculdade pode ajudar muito. Mas sem garantia: há cursos bons e ruins, como acontece em qualquer profissão. E não é ilógico imaginar que, com o diploma obrigatório, haverá incentivo para a proliferação de faculdades de baixo nível.

Há uma pergunta que merece atenção: por que as empresas jornalísticas, praticamente sem exceção, são contra o diploma obrigatório? Certamente não é por interesse financeiro: os salários dependem da qualidade do trabalho, como acontece em qualquer empresa interessada em prosperar. E os lucros dependem da qualidade do produto.

O diploma de curso superior tem importância nas redações. Elas têm a obrigação, alguns falariam em ousadia, de contar e explicar ao leitor tudo que acontece na cidade e no mundo. Uma equipe que não tenha uma boa quantidade de profissionais com formação universitária - ou com todo mundo com o mesmo diploma - estará sempre em desvantagem na corrida pela fidelidade do leitor.

Temos a ousadia de falar de tudo que acontece, e precisamos de especialistas em tudo, ou quase tudo.

Isso inclui especialidades que não se aprendem em universidade alguma. Como o faro por notícias, algo que ninguém sabe explicar direito, mas podem acreditar: existe mesmo.

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