terça-feira, dezembro 13, 2011
Escolher melhor - LUIZ GARCIA
O Globo - 13/12/11
Muita gente boa acredita que a sabedoria é irmã da honestidade. Pelo menos, que deveria ser. Minha geração, pelo menos, escapou dessa forma de ingenuidade graças ao que aprendíamos desde cedo no principal instrumento cultural à nossa disposição naqueles anos sem televisão: as histórias em quadrinhos.
Nelas, os heróis podiam ser fortes como ninguém e até voar, mas não faltavam vilões de alta sabedoria, cientistas loucos que inventavam sofisticadíssimas armas de destruição, quando não criavam monstros tão horríveis quanto fortões, que ganhavam todas as paradas contra os mocinhos bonitões.
Exceto no último quadrinho ou no último episódio da fita em série, naturalmente.
Com o passar dos anos, a gente vai deixando para trás as lições da infância - o que talvez seja uma leviandade - e é surpresa desagradável descobrir no jornal de domingo que, como nos quadrinhos de antigamente, a sabedoria nem sempre anda de mãos dadas com a honestidade.
Ficamos sabendo que em pelo menos 16 universidades federais, espalhadas por 13 estados, descobriu-se que reitores e outros dirigentes estão sendo investigados ou processados por manterem relações indevidas com recursos públicos.
O campeão do mau comportamento parece ser o reitor da Universidade do Piauí, Luiz de Souza Santos Júnior, que responde a sete processos disciplinares e mais ações na Justiça e inquéritos no Ministério Público Federal e na Polícia Federal. Mas não se pense que a farra do boi acontece apenas em estados modestos: há reitores sendo investigados ou já respondendo a processos em Brasília, São Paulo e no Rio. Ao todo, problemas acontecem em 16 universidades. Como se dizia antigamente, do Oiapoque ao Chuí.
Investigações e processos estão sendo tocados, ao que parece, com a necessária energia. O que é muito bom, mas não basta. Falta averiguar algo essencial: por que as reitorias, do Chuí ao Oiapoque, são tão vulneráveis à corrupção?
Seria ingenuidade acreditar que em todas elas as tentações sejam tão poderosas que provoquem a desonestidade em educadores previamente honradíssimos. O problema pode ter raiz no processo de seleção. Nada impede, de forma alguma, uma enérgica temporada de caça aos maus educadores. Mas tudo aconselha um exame severo nos critérios de seleção de novos reitores.
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