FOLHA DE SP - 13/12/11
BRASÍLIA - Muito antes de servir de apelido para o tucano Geraldo Alckmin, hoje governador paulista, o chuchu estrelou o noticiário político e econômico nacional como vilão da alta dos preços.
Em abril de 1977, mais precisamente, o então ministro da Fazenda, Mário Henrique Simonsen, responsabilizou o insípido vegetal (segundo os dicionários, um fruto ou uma hortaliça; listado pelo IBGE entre tubérculos, raízes e legumes) pela inflação de 4% do mês anterior. O episódio acabou levando a uma reformulação do índice adotado na época como referência para a política econômica, o IGP da Fundação Getulio Vargas.
Houve progresso de lá para cá, e não apenas nas dimensões das taxas mensais. Democracia, mais transparência nas decisões governamentais, aumento da renda, nova classe média, novos hábitos de consumo -e o chuchu, agora tido como irrelevante nos orçamentos familiares, está sendo retirado mais uma vez do cálculo da inflação oficial.
A nova fórmula de apuração do IPCA, que começa a vigorar no próximo ano, veio a calhar para a atual equipe econômica, que mantém a tradição local de brigar com os números e metodologias quando os resultados exibidos não agradam.
Guido Mantega, que andou fazendo contas para mostrar como seria a inflação sem alimentos e combustíveis, ganhou, ao menos, um índice com peso menor para custos com as empregadas domésticas, prestes a receberem um generoso aumento do salário mínimo -e sem miudezas como chope, bacalhau e o indomável chuchu, que já subiu 15% em 2011.
As mudanças, tecnicamente fundamentadas, estão levando a uma redução geral das projeções de inflação para 2012. Há, em tese, maior margem para reduzir os juros e estimular a economia, mas as taxas esperadas se mantêm acima da meta do Banco Central pelo terceiro ano consecutivo, num sinal de que o problema vai além da fórmula do IPCA.
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