quinta-feira, dezembro 08, 2011

Duas coisas que ficaram claras sobre agosto - RIBAMAR OLIVEIRA

VALOR ECONÔMICO - 08/12/11
Os dados sobre o comportamento da economia brasileira no terceiro trimestre deste ano, divulgados na terça-feira pelo IBGE, jogaram luz sobre um debate que agitou o país por alguns meses. No fim de agosto, o Banco Central (BC) mudou a trajetória de sua política monetária e reduziu a taxa de juros. A reação quase generalizada dos analistas do mercado foi de crítica contundente à decisão da autoridade monetária, com algumas insinuações de que o BC teria se submetido ao jogo político.

Hoje, duas coisas estão mais claras: o mercado fez o movimento de redução dos juros antes do BC e, sabe-se agora pelo IBGE, a economia já estava em franca desaceleração no momento em que isso ocorreu. Tanto o mercado quanto o BC fizeram, portanto, a mesma leitura dos dados que dispunham e que apontavam um esfriamento significativo da atividade econômica, resultante das medidas adotadas pelo governo para controlar a inflação.

O gráfico abaixo é uma comparação entre a curva de juros do mercado (medida pelo DI pré de 360 dias) e a trajetória da meta para a taxa Selic (que é a taxa básica de juros, definida pelo BC). No início de agosto, o mercado começou a reduzir os juros. Ao longo do mês, o movimento foi se acentuando, de tal forma que no momento em que o BC diminuiu a Selic em 0,5 ponto percentual (de 12,5% para 12% ao ano), o mercado já operava com juros em torno de 11,20% ao ano.

Se o movimento feito pelo BC surpreendeu boa parte dos analistas, o mesmo não se pode dizer das tesourarias dos bancos. Elas já operavam com taxas em queda. Não é a primeira vez que ocorre esse descompasso entre os departamentos econômicos das instituições financeiras e suas tesourarias e, provavelmente, não será a última.

No início de agosto, ou seja, no segundo mês do 3º trimestre do ano, ao identificar sinais de desaquecimento da atividade econômica, o que indicava queda dos juros no futuro, o mercado fez o seu jogo. O Banco Central não apenas percebeu a piora dos indicadores econômicos internos, mas também considerou o agravamento da crise na Europa e, por isso, também reduziu a Selic.

Os dois estavam certos. Os dados divulgados pelo IBGE mostram que, no 3º trimestre deste ano, o país não cresceu em relação ao trimestre anterior. E que houve retração dos investimentos, do consumo das famílias e do governo. O resultado do Produto Interno Bruto (PIB) só não foi negativo por causa do desempenho das exportações do país.

Olhando para o passado, fica claro agora que o Banco Central não forçou uma queda da Selic para que o mercado o acompanhasse. O gráfico abaixo mostra que, desde agosto, o BC está acima da curva de juros. Ou seja, a percepção sobre a desaceleração da atividade econômica está levando o mercado a se antecipar aos movimentos da autoridade monetária. Ele já trabalhava com juro inferior a 10% ao ano, quando o BC reduziu a Selic para 11%.

É importante observar que a desaceleração da economia brasileira foi deliberadamente provocada pelo governo para reduzir a inflação, que, no início deste ano, ameaçava fugir ao controle. De janeiro a março, o IPCA acumulado já estava em 2,4% para uma meta de 4,5% neste ano. Estava claro que a meta não seria atingida.

Para evitar o descontrole, o BC elevou os juros e impôs medidas macroprudenciais para o mercado financeiro, o que elevou o custo do dinheiro e reduziu o ritmo de expansão do crédito. Além disso, o governo anunciou que cumpriria a meta de superávit primário deste ano.

O mix de política econômica (aumento dos juros, medidas macroprudenciais e controle dos gastos) adotado no início deste ano deu o resultado esperado pelo governo. A economia esfriou para que a inflação fosse controlada. Mas o país não está parado. Como lembrou o BC, em nota divulgada na terça-feira, o PIB cresceu 3,7% nos últimos quatro trimestres. Para o BC, a economia brasileira está em um ciclo de crescimento "compatível com o equilíbrio interno e externo e consistente com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012". As pessoas não podem esquecer que é preciso manter a inflação sob controle.

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