O ESTADÃO - 16/11/11
A presidente Dilma Rousseff terá três anos para governar e construir algo importante, se ganhar tempo,agora, avançando até onde for possível na limpeza da máquina federal.Além de ministérios aparelhados, ineptos e em grande parte emporcalhados, ela herdou uma pauta complicada e um acúmulo de problemas ignorado sou criados na administração anterior.
Terá de cuidar da Copa do Mundo, um compromisso inoportuno, caro e de execução muito atrasada, porque nada ou quase nada se fez durante quatro anos. Terá de se ocupar da agenda própria, com algumas ideias interessantes, como a complementação das ações assistenciais com programas de formação para o trabalho.
Deverá enfrentar um quadro internacional adverso e ao mesmo tempo - se não quiser um desastre no médio prazo - manter a inflação sob controle e administrar mais seriamente as contas públicas. Além disso, terá de se apressar, se quiser enfrentar o desafio da competitividade, um problema até agora contornado com paliativos.
Foi um erro esticar a discussão sobre os casos mais notórios de malandragem, como se fosse preciso, de fato, ser tolerante com o cordão dos cafajestes.
Nenhum partido da base renegou o governo, nem renegaria, porque nenhum deles pode dispensar a vizinhança do poder. Se não fosse pelas vantagens do poder, seria pela baixa qualidade da alternativa.
Quem se dispõe a juntar-se a uma oposição tão fraquinha, tão incompetente e tão desenxabida? A presidente prometeu, no início de seu mandato, cuidar da administração e da qualidade do gasto público. Precisará cumprir pelo menos em parte essa promessa, se quiser fazer algo relevante.
Não poderá contar com um mercado mundial favorável para puxar o crescimento brasileiro.
Ao seu principal cliente, a China, o Brasil quase só fornece commodities.Mas o índice de preços de alimentos da FAO, o organismo das Nações Unidas para alimentação e agricultura, atingiu em outubro o nível mínimo em 11 meses.
A produção cresceu muito, na atual temporada, porque a América do Sul, a China, a Rússia e a Ucrânia responderam a os estímulos de preços,comentou nesta segunda - feira, em Cingapura, Abdol reza Abbasian, funcionário da organização.
Um novo cenário de baixa é agora projetado para o próximo ano, embora a de manda de alimentos deva continuar muito forte.
Se essa previsão se confirmar, a receita brasileira de exportação será afetada em 2012. Nesse caso, o superávit comercial deverá encolher e o déficit em conta corrente, agora estimado em US$ 68,6 bilhões,poderá aumentar perigosamente.
Esse é um risco próximo e o governo deveria incluí-lo em seu planejamento de curto prazo. Mas o Ministério da Fazenda e o Banco Central vêm sendo orientados, até agora, por outro tipo de preocupação: manter a economia estimulada, no caso de uma forte desaceleração no mundo rico. Daí a decisão do Banco Central, anunciada na sexta-feira, de reduzir reservas obrigatórias dos bancos e adiar um aperto nos critérios de uso dos cartões de crédito, como se fosse preciso,com urgência,estimulara demanda.
Os números do emprego,do crédito e do varejo ainda não mostram um quadro tão ruim.Mas os dados da indústria confirmam um crescente desajuste entre as condições da oferta interna e as da procura.
Até agora, as principais medidas impropriamente rotuladas como "política industrial"tiveram caráter protecionista.
Ninguém setor na competitivo jogando só na defesa. As poucas desonerações fiscais foram mal planejadas.Além disso, o governo tratou de compensá-las deslocando a tributação. Isso poderá resultar em mais impostos para algumas empresas.
Dadas as condições atuais e o cenário externo previsto para 2012, estímulos à demanda poderão produzir mais pressões inflacionárias e maior deterioração da contracorrente do balanço de pagamentos. Além disso, se o combate à inflação for relaxado, o desajuste cambial tenderá a crescer.
Os maiores problemas estão hoje do lado da oferta, por causa dos custos e do câmbio. Isso não é novidade, mas o governo passa longe dessas questões, porque é incapaz de arrumar suas contas, de tornar a tributação mais funcional e de administrar um programa de investimentos estratégicos.
Sem uma política efetiva de desenvolvimento e de reforço do sistema produtivo, ações de curto prazo podem resultar em desajustes maior e se muito mais difíceis de consertar.
Cuidar do curto prazo pode ser importante, mas não requer muita competência: é fácil gastar um pouco mais e afrouxar o crédito. Tratar do longo prazo é outra história. Três anos serão pouco tempo para uma política transformadora. Se começar logo, a presidente poderá deixar uma herança melhor do que a recebida no começo de 2011.
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