PMDB põe as unhas de fora
JOÃO BOSCO RABELLO
O Estado de S.Paulo - 16/10/11
A defesa pública da redução do número de ministérios, feita pelo senador Waldir Raupp (PMDB-RO), dá a medida do descontentamento do PMDB com a hegemonia petista no governo, desproporcional ao peso do partido na aliança que elegeu Dilma Rousseff.
Além de inusitada, por partir do presidente de uma legenda beneficiária dos cargos na estrutura que propõe extinguir, a proposta revela ainda a descrença do PMDB no reequilíbrio de forças na reforma ministerial de janeiro. O partido não espera nenhuma alteração de curso.
O PMDB é um partido que historicamente opera nos bastidores e costuma encaminhar seus interesses com a eficiência própria de uma agremiação partidária capaz de submeter governos à sua força numérica e capilaridade nacional.
A declaração pública de Raupp rompe esse estilo e expõe a dificuldade do vice-presidente Michel Temer em controlar a insatisfação cada vez mais ostensiva do partido com o tratamento por parte do Planalto.
A proposta de redução do ministério não se traduz por um surto virtuoso - ela tem o claro propósito de sinalizar que se não é possível aumentar a participação no governo, que se reduza o espaço do rival na sua composição.
Um movimento que mostra como está radicalizada a disputa com o PT e que acrescenta um grau de dificuldade ainda maior para a presidente Dilma Rousseff na reforma cuja prioridade deverá (pelo menos, deveria) ser a de dotar o governo de uma capacidade mínima de gestão, até agora inexistente. O que se tem até aqui, na avaliação dos políticos é o governo de uma gestora, sem gestão.
Mais gestão
orienta reforma
A provocação do PMDB encontra um governo preocupado não só com a ineficiência da maioria dos ministérios, mas também com a capacidade de pastas sob o comando petista de produzir agendas negativas, após os escândalos de corrupção no primeiro semestre. Casos da recente tentativa de intervenção da Secretaria de Políticas para Mulheres, na área da propaganda, e da Secretaria de Direitos Humanos no projeto já pactuado da Comissão da Verdade. A percepção de gestão no governo fica restrita a poucos ministérios - não chegam a 10 - e com visibilidade quase exclusiva da área econômica, onde os ventos favoráveis que sopraram para Lula não voltarão mais: daqui em diante será uma luta diária pelo controle da inflação e monitoramento da crise externa.
Apostas
Na bolsa de apostas , dois nomes são dados como fora do governo - Carlos Lupi, do Trabalho, e Mário Negromonte, das Cidades. Este, acusado de comandar mensalão no PP.
Namoro de opostos
A perspectiva de uma parceria com a Força Sindical, que reúne 2.675 afiliadas e 10 milhões de trabalhadores, levará a cúpula paulista do PSDB ao lançamento amanhã do livro sobre os 20 anos da entidade - que tem prefácios de Fernando Henrique e Lula. São esperados o governador Geraldo Alckmin, José Serra e o líder na Câmara, Duarte Nogueira. A primeira pedra no caminho da parceria é a votação, na próxima quarta-feira, do projeto que regulamenta o trabalho dos terceirizados, cujos direitos os sindicalistas querem equiparar aos dos contratados diretamente pelas empresas. A Força vai monitorar os votos tucanos na comissão.
Comissão da Verdade
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) entrega quarta-feira o parecer sobre a criação da Comissão da Verdade, restringindo de 1964 a 1988 o período das investigações.
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