PIB recua, inflação sobe. E daí?
ALBERTO TAMER
ESTADO DE S. PAULO - 16/10/11
A economia está desacelerando. Em agosto, 0,53%, de acordo com o Índice de Atividade Econômica (IBC-Br) e o PIB do terceiro trimestre pode ficar em zero ou negativo. O mercado fala em menos 0,2%. Preocupa, mas ainda não é grave porque não indica uma tendência e governo e BC estão adotando medidas para evitá-la. Talvez seja preciso mais. Em 12 meses, a atividade econômica ainda cresceu 4%, mas a desaceleração tem sido maior nos últimos meses. A manter esse ritmo, o PIB não deve passar de 3% este ano, apesar de o BC ainda trabalhar com 3,5%. O governo, que vai divulgar a nova previsão esta semana, admite um pouco mais. Não convenceu ninguém, nem a ele mesmo. É o que se pôde ver nas entrevistas de Guido Mantega após divulgação do índice.
Tudo bem. O ministro da Fazenda disse em Paris, onde participou de reunião com seus colegas do G-20, que esse resultado apontado pelo IBC-Br estava previsto, foi até programado. Era para ser assim. Vai se reverter no quarto trimestre, quando as medidas já em prática pelo governo, para estimular a demanda interna e a produção industrial, estiverem sutindo efeito mais intensamente. A impressão é que o ministro parece conformado com 3%, que não é mal - afinal ainda estamos crescendo e atraindo investimentos externos diretos, que podem passar de US$ 60 bilhões este ano. Isso criará produção, demanda e emprego.
Emprego até quando? Este ano, deverão ser criados 2,5 milhões de empregos no País, abaixo da previsão de 3 milhões, mas que, somados aos outros 2,5 milhões do ano passado, representam um forte estímulo à demanda interna. É um resultado que precisa ser mantido e deve estar surpreendendo outros países, como os EUA e a União Europeia, onde o desemprego é entre 9% e 10%, quase o dobro do Brasil. A dúvida é se esse resultado poderá se repetir no próximo ano, porque a produção da indústria continua estagnada. Ainda não reagiu aos últimos estímulos do governo. O crescimento continua sustentado pelo mercado interno que resiste, mas as vendas no varejo incluindo veículos e material de construção estão recuando. Devem tomar fôlego com o 13.º salário e os novos reajustes salariais marcados para o próximo ano. E aqui entra a inflação...
E não falaram nela. É estranho que após a divulgação do IBC-Br ninguém falou da inflação. Afinal, o que estamos vendo aí é uma economia em baixa e uma inflação de 6,5% em alta. Curiosamente, os índices coincidem. O indicador de atividade econômica do BC recuou 0,53% e a inflação aumentou também 0,53%. Uma associação no mínimo desconfortável. Até onde os preços mais altos vão conter a demanda e reduzir ainda mais o PIB este ano? Não estaríamos diante do pior dos cenários, estagnação econômica e inflação?
A equipe econômica e o BC já indicaram que o objetivo não é derrubar a inflação para 4,5% ou 5% nos próximos meses, é aceitá-la próximo do teto e conter os preços futuros, agindo caso a caso. O que preocupa é a expectativa inflacionária. Nos próximos dias deve ser anunciado um pacote de R$ 2 bilhões para financiar as atividades da indústria sucroalcooleira para atenuar a alta dos preços. O mesmo vem ocorrendo no setor agrícola, que já recebeu mais de R$ 100 milhões e deve apresentar uma safra novamente próxima do recorde apesar do clima. A prioridade é manter um crescimento mínimo de 3% com uma inflação ainda alta, sim, mas sob controle.
Mas não vai dar! É o que alguns economistas afirmam. Uma hora, vai estourar! Alguns, como Affonso Celso Pastore, dizem que o regime de metas não existe mais, foi para o espaço; outros, como Delfim Netto, discordam. É uma política realista. É o que se podia e deve fazer por enquanto. Não se trata de uma mudança permanente da política econômica, mas ajustes às novas circunstâncias Como Keynes respondeu certa vez quando alguém o criticou por ter mudado de posição. "Quando as circunstâncias mudam, eu mudo também. E o senhor?"
Quando tudo voltar a ser como era, a gente muda também... Como Keynes.
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