Dinheiro para fazer política
FERNANDO RODRIGUES
FOLHA DE SP - 24/09/11
Ao chegar a Brasília no século passado, disseram-me que há na natureza dois tipos de políticos: o político que precisa de dinheiro para fazer política e o que precisa da política para fazer dinheiro. Embora reducionista, a definição ilustra a atual onda promovida por Lula, petistas e agregados governistas a favor de financiamento público exclusivo para eleições.
Essa turma deseja se inserir na categoria do “político que precisa de dinheiro para fazer política”. É compreensível. Muitos ali são réus no processo do mensalão. Mas o que chama a atenção no debate é a malandragem e a preguiça.
A malandragem é pedir dinheiro sem mencionar quanto o Brasil já torra com políticos. O Fundo Partidário neste ano distribuirá mais de R$ 300 milhões entre as 27 siglas existentes. Essas legendas também têm o direito de aparecer em redes nacional e estaduais de rádio e de TV uma vez por semestre – com programas e inserções curtas. Numa estimativa modesta, a renúncia fiscal pode ficar perto de R$ 500 milhões. Ou seja, já é muito dinheiro público usado para fazer política.
A preguiça surge na abulia para buscar arrecadação de pequenas doações. Enquanto milhões de norte-americanos contribuem com US$ 10 ou US$ 20 para seus candidatos, no Brasil esse tipo de financiamento é um fracasso – pois os políticos não têm coragem nem disposição de pedir dinheiro aos eleitores.
Dilma Rousseff teve 55,8 milhões de votos e só 2.032 doadores de pequenas quantias. José Serra, seu adversário, nem tentou tal modalidade de arrecadação.
Esse é o comportamento basilar do atual debate: por que passar pelo constrangimento de pedir dinheiro ao eleitor se posso receber dos cofres do governo? Por sorte, como sempre, essa história de reforma política é apenas uma miragem. A chance de algo ser aprovado continua para lá de remota.
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