Obama e o PMDB
VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 15/08/11
SÃO PAULO - Que inveja do Congresso brasileiro. Comentários assim circularam nas conversas entre jornalistas americanos aqui instalados e colegas nos EUA. Referiam-se ao impasse na Câmara e no Senado que quase levou a Casa Branca a suspender pagamentos de contas.
Aventar a suposta disfuncionalidade da política americana agora é lugar-comum. Justifica a baixa na nota de bom pagador do país ou os ataques aos republicanos, na série infinita de discursos de Barack Obama -que já ameaça Fidel Castro no quesito "quando há pouco a fazer, o jeito é falar".
Em contraste com o norte-americano, o presidencialismo brasileiro parece mais apto a responder de pronto às ameaças na economia. Já vem com maioria no Congresso.
É pequena a diferença de composição entre as forças que apoiaram o confisco da poupança sob Collor; as privatizações, o câmbio anabolizado e a liberalização sob FHC; e o programa anticrise que fez saltar o gasto permanente do governo e os empréstimos estatais sob Lula.
Um núcleo robusto de parlamentares -de partidos que hoje por acaso se chamam PMDB, PR, PTB, PDT, PP e o PSD nascituro- está sempre a postos para cumprir, mediante compensações, os desígnios do Planalto. Basta que a força vencedora da eleição presidencial se acople a esse "centrão" para dominar o Congresso.
Não existe essa hipótese nos EUA. Presidentes cujo partido perde na eleição a maioria na Câmara ou no Congresso têm de conviver com esse fato ao longo de dois, quatro, seis ou até oito anos. Bill Clinton, George W. Bush e Obama, para citar os três últimos, enfrentaram o domínio parlamentar da oposição em parte de seus mandatos.
Quer dizer que a solução para os EUA é o PMDB? Bem, podemos pensar em exportar nosso bastião da "governabilidade" e seus satélites. O FBI vai ter trabalho, mas a Casa Branca pode conquistar seus 15 minutos de sossego na economia.
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