A China acusa o golpe
VINICIUS MOTA
FOLHA DE SP - 08/08/11
Enquanto a política americana exibe suas entranhas ao mundo, a China reage em velho estilo. Os Estados Unidos, diz um comunicado da agência de notícias chinesa, deveriam curar seu vício pelo endividamento, passando a viver com seus próprios meios.
A China empresta muito do que poupa a governos nos EUA e na Europa. Em títulos da dívida americana, deposita 40% de suas economias - US$ 1,2 trilhão, ou um PIB do México. Com o valor e os juros do dólar em queda, o patrimônio chinês se desvaloriza.
Mas o pior para a China é que a deterioração do poder de compra do Ocidente chacoalha o solo no qual brotou e vicejou o "milagre chinês". Estava combinado que a Ásia reprimiria seu consumo, enquanto se tornava uma fabulosa fábrica de mercadorias baratas, para satisfazer e financiar europeus, americanos e quem mais viesse.
Se os EUA decidirem "viver com os próprios meios", o que a China fará com tanta capacidade produtiva?
Pequim vai permitir - ou vai conseguir evitar - que os chineses consumam e se endividem em ritmo mais acentuado? Que cresçam salários e itens de bem-estar escassos na China, como aposentadoria, férias, assistência médica e descanso semanal? Que a fatia da população urbana aumente depressa e atinja níveis de países ricos? Os efeitos de uma transição como essa seriam suportáveis pela ditadura?
Coisas estranhas ocorrem na China. A "repressão preventiva" após a Primavera Árabe foi brutal. Um acidente com trem-bala no mês passado gerou volume inusual de crítica pública ao governo. Perto da sucessão no PC, emerge a figura exótica de Bo Xilai, um tipo populista que chefia o partido em Chongqing, com seus 30 milhões de habitantes.
Agora a crise nas economias ocidentais atormenta o status quo da ditadura chinesa com o pesadelo de o país ter de consumir tudo o que produz. De um jeito dramático, o mundo está ficando interessante.
A China empresta muito do que poupa a governos nos EUA e na Europa. Em títulos da dívida americana, deposita 40% de suas economias - US$ 1,2 trilhão, ou um PIB do México. Com o valor e os juros do dólar em queda, o patrimônio chinês se desvaloriza.
Mas o pior para a China é que a deterioração do poder de compra do Ocidente chacoalha o solo no qual brotou e vicejou o "milagre chinês". Estava combinado que a Ásia reprimiria seu consumo, enquanto se tornava uma fabulosa fábrica de mercadorias baratas, para satisfazer e financiar europeus, americanos e quem mais viesse.
Se os EUA decidirem "viver com os próprios meios", o que a China fará com tanta capacidade produtiva?
Pequim vai permitir - ou vai conseguir evitar - que os chineses consumam e se endividem em ritmo mais acentuado? Que cresçam salários e itens de bem-estar escassos na China, como aposentadoria, férias, assistência médica e descanso semanal? Que a fatia da população urbana aumente depressa e atinja níveis de países ricos? Os efeitos de uma transição como essa seriam suportáveis pela ditadura?
Coisas estranhas ocorrem na China. A "repressão preventiva" após a Primavera Árabe foi brutal. Um acidente com trem-bala no mês passado gerou volume inusual de crítica pública ao governo. Perto da sucessão no PC, emerge a figura exótica de Bo Xilai, um tipo populista que chefia o partido em Chongqing, com seus 30 milhões de habitantes.
Agora a crise nas economias ocidentais atormenta o status quo da ditadura chinesa com o pesadelo de o país ter de consumir tudo o que produz. De um jeito dramático, o mundo está ficando interessante.
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