Arco Norte, o Eldorado da logística
KÁTIA ABREU
FOLHA DE SP - 06/08/11
Implementados, os projetos do Arco Norte podem baixar em mais de 13% o preço do frete da saca de soja
QUALQUER QUE seja a nossa visão do Estado, quer sejamos mais liberais ou mais intervencionistas, todos concordamos em que nas sociedades modernas cabe ao Estado a responsabilidade pelas políticas macroeconômicas, que assegurem a estabilidade dos preços e o maior nível de emprego possível.
Mas, além disso, em economias não ainda suficientemente maduras, como a brasileira, cabe ao governo um papel indelegável de planejamento setorial, com o propósito de orientar o investimento público e articular o investimento privado, de modo que o crescimento das atividades produtivas não seja interrompido ou prejudicado pela oferta inadequada de infraestrutura ou de recursos humanos e institucionais.
O Brasil hoje é um caso exemplar de sucesso econômico, obtido devido à manutenção de políticas econômicas racionais por sucessivos governos.
Porque tivemos a sabedoria de escolher a continuidade -e não a ruptura-, estamos progressivamente nos tornando uma economia mais forte e socialmente mais justa.
Mas o crescimento econômico está cobrando algumas contas atrasadas.
O Estado ainda não foi capaz de criar uma capacidade mínima de planejamento que proporcione uma visão de longo prazo e que nos poupe dos estrangulamentos que hoje limitam a continuidade do crescimento.
Também não foi capaz de desenvolver competências gerenciais e executivas que dessem à maioria das agências do governo um mínimo de capacidade.
Apesar de fundamentais para vários setores da atividade produtiva, faço essas reflexões para chamar a atenção para uma grave distorção que afeta a nossa produção de grãos.
As regiões agrícolas localizadas acima do paralelo 15 (regiões Norte e Nordeste, metade norte da região Centro-Oeste e norte do Estado de Minas Gerais) que, em 2001, respondiam por apenas 32% da produção nacional de milho e de soja, hoje colhem 52% do total do país.
Nesse período, a produção nacional desses grãos cresceu 65%.
Mas os sistemas de escoamento, além de precários, comprovam a fragilidade do planejamento governamental, com os portos do Sul e do Sudeste embarcando cerca de 84% do total movimentado dos dois grãos; os portos do que chamamos Arco Norte -de Porto Velho a São Luis- escoam apenas 16% da produção nacional.
A morosidade inexplicável na licitação do porto de Itaqui, em São Luiz (MA), de Outeiro, no sistema de Belém (PA), do licenciamento da ampliação do porto de Santarém e dos investimentos públicos em Porto Velho impedem o pleno uso da capacidade portuária desses locais.
Da mesma forma, não há explicação para a falta de investimento nos grandes sistemas fluviais dos rios Madeira, Teles Pires/Tapajós e Tocantins, que poderiam ser transformados em grandes hidrovias.
Todo esse complexo permitiria o escoamento adicional de 10 milhões de toneladas (algo em torno de 23% do total embarcado no país) pelos portos dessa região, baixando os custos de produção e descongestionando os portos do Sul e do Sudeste do país.
É fundamental destacar que se trata de uma alternativa capaz de operar a custos moderados que podem ser, em sua maior parte, compartilhados com a iniciativa privada por meio das PPPs (Parcerias Público-Privadas).
Os projetos do Arco Norte são uma nova alternativa de logística de grande capacidade. Implementados, podem reduzir o preço do frete da saca de soja em mais de 13%.
E isso não é pouca coisa, uma vez que, no Brasil, os custos com logística podem comprometer cerca de 21% da renda do produtor -ante 5,3% nos Estados Unidos e 5,8% na Argentina.
Investimentos na logística do Arco Norte aumentarão a nossa tão comprometida competitividade nos mercados mundiais, em especial diante dos da Ásia. E, quando falamos em competitividade, não estamos privilegiando um setor. Estamos falando de mais renda, de mais empregos, de alimentos mais baratos e de desenvolvimento para o Brasil. Simples assim.
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