A poupança não ajuda
CELSO MING
ESTADÃO - 28/08/11
Aceitem a realidade. A esse passo, o Brasil não crescerá, na média, mais do que 4% ao ano. É o recado que o economista Edmar Bacha, um dos criadores do Plano Real, passou na quinta-feira, em debate entre os membros da equipe econômica do governo FHC, no Instituto Fernando Henrique Cardoso.Alguém na plateia opinou que o grande limitador é faltar uma oposição vigorosa. Fernando Henrique replicou: antes de se opor, é preciso entender.
Não há só um limitador do crescimento. O mais óbvio é a insuficiência de investimentos. Para cada unidade de capital, a economia gera 5 unidades de PIB (renda do País em um ano).Fora isso, caiu a produtividade do capital que o País tinha antes dos anos 60, explica Bacha. E o investimento ficou mais caro, porque a política de substituição de importações exige máquinas e condições nacionais de custo mais alto.
Como o investimento exige recursos, chega-se ao ponto de estrangulamento seguinte: o baixo nível de poupança do brasileiro, que mal chega a 17% do PIB. Apenas para comparar: o chinês poupa 51% de sua renda e os demais da Ásia oscilam entre 30%e 35% do PIB.
Pior ainda: a poupança do brasileiro está menor, adverte Bacha. No início dos anos 70, a poupança interna (18,6%) somada à externa (2,7%) alcançava 21,3% do PIB. Em 2010, esses números eram, respectivamente, 16,6% e 2,7%, e a poupança, 19,3% do PIB.
O economista André Lara Rezende vê o baixo nível de poupança no Brasil não só como um dos principais fatores de alta dos juros, mas também como responsável pela inflação no passado. Explicando melhor: sem uma poupança garantidora do investimento, o governo apelou e subiu os preços, o que tirou renda do trabalhador e das classes médias - uma espécie de imposto disfarçado. Esse arranjo funcionou de modo inverso. Normalmente, a primeira vítima da inflação é o setor público(governo), à medida que a arrecadação de impostos sempre vem depois das operações de compra e venda e, enquanto isso, corrói as finanças públicas. Mas o governo se defendeu com a correção monetária, mais eficaz na defesa dos seus interesses do que na do trabalhador. Assim, apropriou-se de recursos para garantir o investimento em infraestrutura. E esse sistema deu o que tinha de dar, até que ficou altamente disfuncional.
Outro criador do Plano Real e ex-presidente do Banco Central, o economista Pérsio Arida também bateu seu bumbo na precariedade da poupança. Os governos trataram de suprir isso com a criação de poupanças compulsórias, como o Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT).
Um problema é a baixa remuneração desses recursos. Na prática, tiram patrimônio do trabalhador e são canalizados para atividades empresariais nem sempre bem geridas. É o caso do FGTS. São recursos empregados em programas de infraestrutura e saneamento urbano, quase sempre, carregados com sobrepreços e corrupção.
E o patrimônio do FAT é despejado em projetos de investimento escolhidos com critérios políticos pelo BNDES.
Arida entende que essa poupança compulsória deva ser transformada em fundos de pensão, cuj aadministração sejade livre escolha do trabalhador.
A questão central é ninguém, até agora, apontar uma solução para o baixo nívelde poupança no Brasil. Podem-se melhorar os mecanismos hoje disponíveis, mas ainda é preciso mais fontes de investimento.
CONFIRA
E o pré-sal?
Entre quinta e sexta-feira aconteceram dois importantes debates sobre o futuro da economia brasileira.
Na quinta-feira, os pesos pesados da equipe econômica do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso discutiram os atuais dilemas para o futuro. E na sextafeira, economistas da área financeira examinaram as possíveis saídas para a crise. Surpreendentemente, em nenhum momento foi examinado o impacto da produção de petróleo a partir dos novos campos do pré-sal, tanto pela Petrobrás como pelas demais empresas do setor petrolífero.
Vai dar conta?
O economista-chefe do Grupo Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn, ex-diretor do Banco Central, é um tanto cético a respeito da capacidade futura da Petrobrás de cumprir as metas de investimento e produção a que se propôs. Para o economista, antes de examinar o impacto da produção futura de petróleo, é preciso ainda saber se a empresa conseguirá dar conta do recado.
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