Filhos podem não custar nada
GUSTAVO CERBASI
FOLHA DE SP - 18/07/11
Na hora de tomar as grandes decisões, evite simplificar suas escolhas em contas matemáticas
Frequentemente, sou convidado por publicações especializadas a criar simulações do preço de ter ou de educar um filho.
Apesar de esse tipo de reflexão econômica aparecer com fre- quência na mídia, considero-a bastante descabida, a ponto de me recusar a fazer qualquer simulação nesse sentido.
Racionalmente, somos motivados a acreditar que a decisão de ter um filho ou não é essencialmente econômica, em razão dos custos de saúde, decoração, educação, alimentação, fraldas e afins.
Quem adota esse raciocínio considera, portanto, que, além dos gastos que já tem atualmente, terá que arcar com os extras trazidos pelo pequeno ser.
Isso é verdade se seu orçamento se esgota com moradia, alimentação, saúde e transporte, os mais essenciais dos gastos básicos, o que não deveria acontecer.
Esse é um evidente sinal do desequilíbrio financeiro em que vivem as famílias de hoje. Consumir todo um orçamento com despesas fixas e burocráticas - o tal do pagar contas - reflete uma péssima qualidade de consumo.
Gastamos tão mal nosso dinheiro que qualquer mudança nos conduz ao desequilíbrio. Imprevistos não são tolerados nem desejados, seja um problema de saúde, um acidente ou a bênção de ter filhos.
Já reparou como muitas pessoas se sentem angustiadas quando são convidadas a apadrinhar um casamento?
De onde sairá a verba do presente?
Quando uma família adota um padrão de consumo mais flexível, com menos compromissos fixos e mais gastos variáveis, seu maior ganho é a capacidade de amenizar imprevistos ou se adaptar a novas situações ""como o desejo de ter um filho, por exemplo.
Imagine uma família que tem uma renda de R$ 2.000 mensais e que a consome toda com prestações do imóvel e do automóvel, com plano de saúde, contas de consumo, supermercado e combustível.
Se alguém adoecer e surgir um novo gasto com medicamentos, essa família terá que recorrer ao crédito e se endividar.
Agora, imagine se essa família optar por uma moradia 10% mais barata e por um automóvel 20% mais barato e econômico, reduzindo seu custo total para R$ 1.700. Essa família teria, agora, R$ 300 mensais para sair da rotina.
Isso pode significar a formação de pequenas poupanças, a compra de presentes ou qualquer tipo de gasto com lazer. Ou, quando surgir um imprevisto, esses itens podem ser adiados para viabilizar o pagamento de medicamentos.
Esse é o raciocínio. Se um casal adota uma vida mais simples em termos de custos fixos e mais rica em experiências de lazer, cria no orçamento verbas flexíveis.
Se descobre que terá um filho, poderá abrir mão de lazer nos meses de resguardo da gestação, e garantir as aquisições iniciais para bem receber o bebê. Se tem o hábito de viajar ou jantar fora, pode tranquilamente contar com a verba desses itens para suprir os gastos dos primeiros meses de vida.
Um casal que efetivamente curte o relacionamento e predomina seus gastos em viagens e gastos com bem-estar pode até ter uma economia orçamentária em razão da recomendada diminuição nos hábitos sociais nos primeiros meses de vida do bebê.
Obviamente, aqueles que acreditam que manterão a rotina de namoro e convívio social mesmo após a chegada dos filhos estão, no mínimo, negligenciando a importância de seu papel como pais.
Preparar-se para esse papel é muito mais importante do que fazer contas. A natureza é sábia e confere a pais e mães uma atitude mais focada após o nascimento dos filhos, o que facilita as escolhas profissionais e o aumento de renda. Na hora de tomar as grandes decisões de sua vida, evite simplificar suas escolhas em contas matemáticas. Seus valores, sua ética e sua missão de vida exigem uma posição mais madura, tanto econômica quanto emocionalmente.
Se você acha que um filho sai caro, faça as contas de quanto custa um adulto. Sai mais barato pedir um divórcio amigável e adotar uma criança.
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