Fora de hora e de lugar
EDITORIAL
FOLHA DE SP - 18/07/11
Repetindo seu repertório de ataques à imprensa nacional e indicações personalistas impostas ao PT, Lula volta à cena para ungir Haddad
Haverá de ser dos mais moderados o interesse da população de Goiânia pela sucessão à prefeitura paulistana. É também pequena a pertinência de um discurso de apoio a pré-candidato petista num encontro que reúne estudantes de variadas filiações partidárias.
Do mesmo modo, reduz-se a uma pequena claque de militantes o número dos que sentem saudades dos ataques à imprensa feitos por Luiz Inácio Lula da Silva durante seu governo.
Cuidados com a adequação da oratória, atenções à pertinência geográfica e respeito à liberdade de expressão nunca foram, todavia, o forte do ex-presidente. Não seriam mais fortes agora, quando toda ocasião para voltar aos palanques parece reacender a vocação messiânica e autoritária.
Foi assim que, no Congresso da União Nacional dos Estudantes, Lula resolveu chamar de "babaca" o jornalista que considere fraca a presidente Dilma Rousseff.
Apostou na confusão, é claro: o vigor da personalidade da atual chefe do Executivo não é idêntico ao de sua capacidade política para resistir com êxito às forças fisiológicas que lhe dão sustentação. Capacidade política que parece especialmente duvidosa, aliás, quando se recorda que a candidatura da atual presidente só teve sucesso ao nascer de uma indicação do bolso do colete lulista.
Eis que Lula se apronta, agora, para outro "dedazo" -termo que, na política mexicana, designa a escolha imperial de candidatos. O ex-presidente prefere o atual ministro da Educação, Fernando Haddad, aos outros aspirantes petistas à Prefeitura de São Paulo, a ex-prefeita Marta Suplicy e o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante.
Não faltam prestígio e qualidades intelectuais a Haddad, cuja reputação administrativa, contudo, saiu arranhada de recentes fiascos nas provas do Enem e no funcionamento do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) para candidatos a vagas em universidades federais.
Sem dúvida, trata-se de um nome menos experiente, mas também com menor rejeição que o de Marta Suplicy. Já Aloizio Mercadante não foi capaz ainda de fazer com que seus poucos meses no ministério mitiguem o desgaste de sua tíbia atuação parlamentar.
Não cabe à Folha, é óbvio, pronunciar-se sobre o teor de decisões internas ao PT. Só se pode observar, entretanto, que em qualquer partido político seria mais saudável -pelas ocasiões de debate público que proporciona- a realização de prévias para a escolha de candidatos.
A exemplo do que acontece no PSDB e no PMDB, porém, parece prevalecer no PT um sistema de indicações de cima para baixo. Com o agravante de que o personalismo de Lula, sem paralelo nas outras agremiações, enseja sempre manifestações de uma concepção atrasada de democracia.
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