Braços parados
CELSO MING
O ESTADÃO - 09/07/11
O último relatório do Departamento do Trabalho dos Estados Unidos sobre a situação do emprego no país é decepcionante e não mostra só o fracasso da política de afrouxamento quantitativo do Federal Reserve (Fed, o banco central americano). Comprova que a recuperação econômica do mundo rico vai ser bem mais fraca do que esperavam os dirigentes políticos.Antes de prosseguir, convém retomar alguns conceitos. O afrouxamento quantitativo não passa de um nome pomposo para uma prática até recentemente condenada: a emissão de moeda para, em última análise, cobrir despesas orçamentárias. Depois de baixar os juros aos níveis próximos de zero e de recomprar US$ 1,7 trilhão em títulos podres, o Fed colocou em marcha duas rodadas de afrouxamento quantitativo: a primeira, de US$ 300 bilhões (em 2008), e a segunda, de US$ 600 bilhões (no primeiro semestre deste ano). Os dólares assim emitidos foram usados para recomprar títulos do Tesouro dos Estados Unidos no mercado. O objetivo declarado foi aumentar o volume de dinheiro para desemperrar o crédito, estimular o consumo e criar empregos.
Ao fim dessas operações, a desocupação atinge 9,2% da mão de obra ativa nos Estados Unidos e está no seu nível mais alto desde dezembro (veja gráfico). Há mais de 14 milhões de americanos desempregados. Em junho, a economia americana criou apenas 18 mil empregos, muito abaixo da expectativa de 90 mil. E, no entanto, apenas para dar trabalho a quem está chegando ao mercado, é necessária a abertura mensal de algo entre 130 mil e 150 mil vagas.
Dois são os fatores que vêm agindo contra a elevação do emprego na mais poderosa locomotiva do mundo. O primeiro é o enorme endividamento das famílias, hoje de 112% da renda - situação que vai desestimulando o aumento do crédito e do consumo. O outro é a grave situação das finanças dos Estados e dos municípios. Lá o ajuste das contas públicas nesses níveis de governo se faz com implacável corte de funcionários públicos. Em junho, foram demitidos nada menos que 39 mil em todo os Estados Unidos.
Subjacentes a esses, há outros fatores de longo prazo atuando para desestimular a abertura de postos de trabalho. O mais importante é o dinamismo dos países asiáticos, que vai atraindo indústrias, o que implica aumento de emprego no exterior ou, como os sindicalistas americanos preferem dizer, implica exportação de emprego para a China. Em outras palavras, está em curso uma enorme redivisão do trabalho no mundo.
O segundo fator de longo prazo indutor de desemprego no país é a cada vez mais acentuada incorporação de Tecnologia da Informação ao sistema de produção. É o computador, a internet e os sistemas online que vão dispensando instalações, máquinas, capital de giro e pessoal.
Não está claro até que ponto o presidente do Fed, Ben Bernanke, renunciou a novas rodadas de afrouxamento quantitativo, especialmente agora quando as coisas parecem piorar. Ele não é dos que admitem o fracasso dessa política. Justifica-a argumentando que a situação estaria pior se esse despejo de dinheiro não tivesse sido feito. Essa está entre as tais justificativas que jamais serão comprovadas.
Vendido e comprado.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, está estudando intervenções no mercado de derivativos de câmbio. Ele está preocupado com posições vendidas por estrangeiros que acabam de atingir US$ 26 bilhões. Na avaliação dele, este comportamento dos estrangeiros contribui para derrubar as cotações do dólar no mercado à vista. O problema é que ninguém fica vendido se, do outro lado, não houver quem esteja em posição comprada. Tentar coibir as posições vendidas implica tentar coibir as posições compradas, supostamente aquelas que convêm estimular.
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