terça-feira, junho 21, 2011

VINICIUS TORRES FREIRE - A economia de Dilma é essa aí

A economia de Dilma é essa aí
VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SÃO PAULO - 21/06/11
Fazenda e Banco Central parecem até aqui felizes com os efeitos da política econômica "heterodoxa"


PARA QUEM ainda acha que o governo Dilma Rousseff "se arrependeu" da política econômica "heterodoxa" que implementava já desde a transição de governo, em dezembro de 2010, conviria prestar atenção a declarações recentes das duas autoridades da área, Guido Mantega, ministro da Fazenda, e Alexandre Tombini, presidente do Banco Central (ou de documentos e entrevistas oficiais do pessoal do BC).
Note-se, além do mais, como Mantega e Tombini fazem questão de se mostrar afinados em público (e não há notícia de que estejam se bicando nas internas).
1) A ata do Copom da semana passada não evidenciou nenhuma grande ou nova inquietação do BC, que continuou a dizer que os juros ficariam altos por um tempo "suficientemente" longo. Isso significa que pode vir apenas uma alta adicional de 0,25 ponto percentual (interpretação dos economistas dos maiores bancos do país). E que os juros podem (e provavelmente vão) ficar altos, por aí, durante 2012;
2) O presidente do BC afirma e reafirma que não considera razoável dar um pontapé nos juros de modo a levar a inflação à meta no ano- calendário e talvez nem nos próximos 12 meses. Certo ou errado, o BC não compartilha, pois, da opinião dos economistas-padrão na praça, "ortodoxos", para os quais o enfoque "gradualista" apenas aumenta os custos de colocar a inflação de novo na meta (dada a indexação, na prática, da economia etc.);
3) O BC parece mesmo achar que a taxa de juros necessária para abater a inflação é menor do que no passado, mesmo no passado recente. A taxa real de juros anda apenas agora pela casa de 7%. Na rodada anterior e sistemática de aumentos de juros (meados de 2008), logo de cara a taxa real foi para 8,5%. Para falar curto e grosso, se o BC de agora fosse se pautar pelo comportamento do BC de antanho, a Selic estaria perto de 14%, não em 12,25%;
4) Mantega saiu ontem de uma reunião com Dilma dizendo que o governo está "satisfeito" porque "conseguiu estabilizar a economia brasileira em patamar de [crescimento anual] 4,5%, o que, para nós, é muito bom. Para um ano de ajustes, é um crescimento excelente". Esse crescimento de 4,5% é um número que Dilma repete (em público e nas internas) pelo menos desde uma entrevista ao jornal "Valor", em março. As diretrizes da sua política econômica não mudaram desde então. Não houve novidades na área fiscal (gastos públicos) nem na monetária (juros);
5) Mantega não deve ter saído da reunião dizendo tais coisas sem ter tido aval ou aprovação de Dilma.
Isto posto, o importante para o governo parece ser que a inflação não estoure a meta (passe de 6,5% ao final do ano), que o crescimento fique em torno de 4,5%, que a restrição ao crédito incida mais sobre o consumo do que sobre o investimento. Não há meta fiscal de médio prazo (um plano de redução de deficit e dívida de uns cinco anos), ideia que Dilma chegou a lançar durante a campanha. Nem há planos de reduzir a meta de inflação (no médio ou longo prazo), que o CMN deve deixar na mesma na semana que vem.
Goste-se ou não, certo ou errado, coerente ou não, de fôlego curto ou não, essas são as balizas que a presidente parece ter na cabeça e é isso que ela parece esperar da política de seus economistas.

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