Fora da curva
CARTA AO LEITOR
Revista Veja
Os brasileiros devem aos integrantes da Polícia Federal, nos últimos anos, o desbaratamento de perniciosas quadrilhas especializadas na dilapidação do patrimônio público. Profissional e eficiente, a PF tem estado ao lado das luzes em um país que precisa delas tanto quanto do ar que respiram seus habitantes. Em 2005, os policiais federais encarregados da Operação Curupira prenderam uma quadrilha que vivia da extração e comércio ilegal de madeira na Amazônia, produzindo a primeira inflexão positiva na luta ambiental na região. No ano seguinte, a Operação Sanguessuga desmantelou um grupo que enriquecia com o desvio de dinheiro público destinado à compra de ambulâncias, trabalho que levou ao indiciamento de dezenas de deputados federais, senadores e ex-parlamentares. A Operação Navalha, de 2007, cortou a linha ilegal que alimentava corruptos com dinheiro de obras públicas. No mesmo ano, a Operação Hurricane abriu uma fresta no fechado mundo do Judiciário e, pela primeira vez, prendeu juízes e desembargadores que vendiam sentenças.Nesse cenário de sucesso, surgiu como "fora da curva", nas palavras de um dos mais altos dirigentes da Polícia Federal, uma operação de 2008 batizada de Satiagraha e que se vendia como um divisor de águas na condução de investigações policiais no Brasil, com o enquadramento, inédito, de um banqueiro, no caso o baiano Daniel Dantas, do Opportunity. VEJA se espantou com o fato de a operação ter sido desfechada sem o conhecimento do diretor-geral da PF e com os "julgamentos apressados e convulsões ideológicas" do delegado responsável pela investigação. "O resultado do amadorismo e da incompetência do trabalho policial será, provavelmente, a impunidade de Dantas (...). Uma pena", registrou a Carta ao Leitor.
Uma reportagem desta edição relata que, na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou ilegal a operação comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, hoje deputado federal, eleito com a sobra dos votos dados ao palhaço Tiririca em São Paulo. Ao justificar sua decisão, o STJ observou que "a Operação Satiagraha violou os princípios constitucionais da impessoalidade, da legalidade e do devido processo legal". Como consequência, também foi anulada a condenação do banqueiro Daniel Dantas.
Os jornalistas não sabem fazer investigações policiais. Mas podem criticá-las. O jornalismo é um dos pilares da democracia, papel que exerce na cobrança de prestação de comas pelos donos do poder, o que na Grécia clássica foi definido de maneira bela e exata: "Só alguns poucos cidadãos ascendem na hierarquia oficial a ponto de terem o poder de tomar decisões e fazer políticas públicas – mas todos podem criticá-las". Foi o que VEJA fez, nadando, então, contra a maré de entusiasmo pela Satiagraha e antevendo seus ruinosos resultados. Registre-se que a própria Polícia Federal já havia se dado conta da estranheza da operação, tendo afastado o delegado Protógenes e encomendado novo relatório a um profissional competente. Mas os desvios originais eram tantos e tamanhos que o STJ não teve outra escolha senão anular o processo, deixando impunes suspeitos que, não fosse a "operação fora da curva", poderiam ter sido penalizados.
Uma reportagem desta edição relata que, na semana passada, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) considerou ilegal a operação comandada pelo delegado Protógenes Queiroz, hoje deputado federal, eleito com a sobra dos votos dados ao palhaço Tiririca em São Paulo. Ao justificar sua decisão, o STJ observou que "a Operação Satiagraha violou os princípios constitucionais da impessoalidade, da legalidade e do devido processo legal". Como consequência, também foi anulada a condenação do banqueiro Daniel Dantas.
Os jornalistas não sabem fazer investigações policiais. Mas podem criticá-las. O jornalismo é um dos pilares da democracia, papel que exerce na cobrança de prestação de comas pelos donos do poder, o que na Grécia clássica foi definido de maneira bela e exata: "Só alguns poucos cidadãos ascendem na hierarquia oficial a ponto de terem o poder de tomar decisões e fazer políticas públicas – mas todos podem criticá-las". Foi o que VEJA fez, nadando, então, contra a maré de entusiasmo pela Satiagraha e antevendo seus ruinosos resultados. Registre-se que a própria Polícia Federal já havia se dado conta da estranheza da operação, tendo afastado o delegado Protógenes e encomendado novo relatório a um profissional competente. Mas os desvios originais eram tantos e tamanhos que o STJ não teve outra escolha senão anular o processo, deixando impunes suspeitos que, não fosse a "operação fora da curva", poderiam ter sido penalizados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário