segunda-feira, maio 23, 2011

RUY CASTRO - Os periquitos


Os periquitos

RUY CASTRO 

FOLHA DE SÃO PAULO - 23/05/11

RIO DE JANEIRO - Cada cidade com seus problemas, não? Vide Londres. Durante séculos, sofreu com o fog -ideal para a literatura e o cinema, mas que matava milhares por ano de bronquite e era só um misto de nevoeiro com fuligem, esta produzida pela queima de carvão, para cozinha e aquecimento, em milhões de casas. No que os londrinos foram proibidos de usar carvão, nos anos 60, o fog acabou.
Agora são os periquitos. Você não leu errado. Uma praga de periquitos está infernizando os parques da cidade. E, como Londres é cheia de parques, pode-se imaginar o tamanho do problema. Segundo estatísticas, uma população de 1.500 periquitos, em 1995, disparou para 30 mil em 2005 e, hoje, deve estar passando dos 50 mil. Mas não me pergunte como eles conseguem recenseá-los. É possível que alguns periquitos tenham sido contados duas vezes.
Teorias pululam. Uma, a de que os corvos, seus predadores naturais, cansaram-se de Londres e resolveram voltar para a roça. Outra, a de que há mais aposentados alimentando pássaros nos parques. Uma terceira é a de que os periquitos estão procriando mais que os ingleses, o que não é difícil. E não falta uma teoria da conspiração: naturais da Índia e da África, os periquitos seriam apenas pontas de lança de uma ocupação para valer. Seu objetivo seria abrir espaço para aquela gente diferenciada, os indianos e os africanos.
O fato é que, ao sentar-se hoje num parque em Londres, você ouve uma revoada. De várias árvores, centenas de periquitos levantam voo ao mesmo tempo, matraqueando em estéreo e Dolby, e dão um rasante sobre a sua cabeça. O filme "Os Pássaros", de Hitchcock, lhe vem à mente. Você fica com medo e volta para casa.
Nos "Pássaros", as armas eram as bicadas. Já em "Alta Ansiedade", de Mel Brooks, os pássaros também atacam, mas com esguichos.

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