ENTREVISTA -José Agripino Maia"As digitais do governo estão na criação do PSD"
Pedro Venceslau
BRASIL ECONÔMICO - 11/05/11
BRASIL ECONÔMICO - 11/05/11
Para ele, a ida de parlamentares de diferentes partidos para a nova legenda foi induzida pelo Palácio do Planalto
O Senador José Agripino (DEM-RN) assumiu o comando nacional do DEM no meio do período mais conturbado do partido. Herdeira do discurso mais conservador da política brasileira, a agremiação, que já se chamou Arena, PDS e serviu de base de sustentação do regime militar, vive hoje um processo de "oferta hostil" inédito na história política nacional. Nesta entrevista, Agripino credita o sucesso da empreitada comandada pelo ex-aliado Gilberto Kassab ao esforço do Palácio do Planalto, que teria encontrado a fórmula ideal para ampliar sua base.
Até agora, qual o tamanho do prejuízo para o DEM com a criação do PSD? Perdemos a parte do partido que não tinha convicção partidária. Essas pessoas saíram por oportunismo, vontade de se aproximar do governo ou conveniências pessoais. Nosso partido diminui um pouco de tamanho, mas a essência permanece. As pessoas que saíram foram eleitas com o tempo de televisão e rádio e com as ideias do DEM. As digitais do governo estão presentes na criação do PSD. Como você acha que tantos parlamentares de legendas diferentes foram para esse partido? Por indução do Palácio do Planalto.
É possível, apesar das mágoas, que seja feita uma aliança entre DEM e PSD nas eleições do ano que vem?
O DEM se aliará aos partidos que hoje fazem oposição ao governo. O PSD, embora tente negar, se filiará à base governista. Sendo assim, não haverá aliança. Em janeiro, o prefeito Kassab lançou a ideia de fundir o DEM com o PMDB e eu refutei na hora. Não para fazer a união de um partido de oposição com outro da base do governo.
E o que acha de uma fusão no campo oposicionista, entre PSDB, DEM e PPS?
A tese da fusão ainda está no campo das hipóteses. Ela terá que ser debatida nos partidos. O balanço dos prós e contras ainda não foi feito.
O prefeito Gilberto Kassab disse que o PSD não é de esquerda, nem de direita, nem de centro. O que achou disso?
É o retrato falado do partido dito por quem tem autoridade para fazê-lo.
Em qual destes espectros se localiza o DEM de hoje; centro, esquerda ou direita?
O Democratas é, acima de tudo, um partido moderno e liberal. O partido prestigia a meritocracia, o capital privado e combate o tamanho gigante do estado. O partido precisa se debruçar agora mais em suas ideias do que em nomes.
Concorda com a tese de FHC, de que conquistar a classe média é o grande desafio da oposição?
Pelo crescimento numérico da classe media emergente, ela é a categoria que precisa ser objeto de atenções políticas, mas sem perder de vista a classe A empregadora e os excluídos.
Como avalia a condução econômica do governo Dilma?
Ela não está agindo para corrigir a gastança do ano passado que produziu a retomada da inflação. O governo tenta impedir a volta da inflação com contenção de investimentos e aumento da taxa de juros. Isso não vai resol-ver. Também não adianta tentar conter a inflação aumentando as importações. O caminho é um só, a diminuição do gasto público de má qualidade. E o governo não está tendo coragem de segui-lo. Combater inflação com importação é um tiro no pé. Quanto maior o gasto público, maior a carga tributária. Dilma faz uma gestão que não ousou e adota remédios tímidos para os problemas que estão surgindo, mas com acertos na política externa.
Quais foram os erros estratégicos cometidos no DEM que levaram o partido à situação que está hoje?
De fato houve umconjunto de erros no passado que prejudicaram a imagem do partido, mas não adianta olhar para eles agora. Se fizer essa avaliação vou ser obrigado a fulanizar os erros e vou querer recuperar um contencioso.
O PSDB continua sendo um aliado preferencial do DEM? Sim, continua sendo.
O melhor candidato à Presidência da oposição em 2014 é o José Serra?
É um grande brasileiro e um grande tucano, mas essa avaliação será feita na hora certa.
O DEM tem quadros para disputar o Palácio do Planalto? Quais?
Temos vários nomes com qualificação, mas citá-los agora seria extemporâneo.Vamos definir isso depois das eleições municipais.
Acredita que a reforma tributária finalmente sairá do papel em 2011?
Eu não confio na determinação do governo de fazer a reforma tributária, porque ele sempre recua ao primeiro embate de integrantes da base governista. Aconteceu antes e deve acontecer agora de novo. Eu vou pagar para ver. Não acho que vai ser diferente do que foi há quatro anos. Isso vale também para a reforma política.
Quando as pessoas perdem, elas se colocam em guarda.
Senador e presidente do DEM
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