Boas notícias
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 05/04/11
Verdades desagradáveis têm o desagradável costume de se recusarem a ser esquecidas.
O escândalo do mensalão, que estourou há cinco anos, parecia destinado a ser ignorado pela opinião pública desde que começou o seu julgamento, em agosto de 2007, pelo Supremo Tribunal Federal. Não por culpa do Judiciário, mas pela natural lentidão de um processo com 38 réus, todos eles com recursos para pagar bons advogados. Por falta de novidades importantes, mídia e opinião pública deixaram o assunto de lado até agora, e o assunto parecia condenado a não ser lembrado, pelo menos até a decisão final da Justiça, sabe-se lá quando.
Na época da denúncia, o escândalo ganhou manchetes diárias, e até repercussão na mídia estrangeira. Jornais americanos, por exemplo, adequadamente, mas sem muita graça, traduziram "mensalão" para "big monthly allowance". E "big" a mesada era mesmo. Isso foi confirmado agora, num trabalho da Polícia Federal encomendado pelo ministro Joaquim Barbosa, do STF. A PF ouviu quase cem pessoas e comprovou que o lobista Marcos Valério recebera do governo Lula, em diversos contratos, R$350 milhões - e parte desse dinheiro formou o caixa do mensalão.
A existência do esquema de financiamento de campanhas eleitorais, com o objetivo de fortalecer a base parlamentar do governo Lula, não é novidade. As provas agora reveladas simplesmente confirmam a gravidade do crime e acrescentam alguns nomes à longa lista dos políticos envolvidos. Dois deles estão associados ao governo atual: o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o líder do governo no Senado, Romero Jucá.
Isso cria um problema político para a presidente Dilma. Ela tem à sua disposição duas atitudes. Pode, simplesmente, pedir aos dois que se afastem do governo. Mas também tem à sua disposição o argumento de que são inocentes até decisão da Justiça em contrário. Em ambas as hipóteses, há um preço político inevitável.
Deixando de lado a presumida dor de cabeça presidencial, o trabalho da Polícia Federal e o fato de que ela pode executá-lo sem interferências indevidas são boas notícias para o país. Quanto mais não seja, podem contribuir para desestimular eventuais cidadãos interessados em serem, digamos assim, os Marcos Valérios da nova geração.
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