Saltando do trampolim
PATRÍCIA MARRONE
O ESTADO DE SÃO PAULO - 09/03/11
O governo de Obama atribui à perda da competitividade da sua indústria manufatureira a causa do pesado déficit comercial e da enorme dificuldade com que se depara hoje a economia americana para retomar os níveis de emprego da fase anterior à crise.Os democratas têm sinalizado claramente a ênfase que pretendem atribuir a uma política industrial sustentada na inovação. Ela prevê, entre outras iniciativas, a reforma no sistema de patentes e incentivos para que graduados nas melhores universidades permaneçam no país. Além disso, a política estimulará a substituição de importados e a repatriação de investimentos de americanos no exterior, entre tantas outras medidas.
A nossa indústria guarda algumas semelhanças com a dos EUA. Nos dois países, a manufatura é responsável por quase 21% do PIB. O problema é que, comparando o valor adicionado gerado pela indústria dos dois países, a americana adiciona 14,3 vezes mais valor à produção do que a brasileira. Além disso, cada empresa industrial brasileira com mais de cinco empregados gera, em média, sete vezes menos valor que uma americana, e os nossos empregados, cinco vezes menos valor para a nossa indústria por ano do que os deles.
Se os americanos estão preocupados com a falta de competitividade de sua manufatura, imaginem como nós deveríamos estar, com tanta defasagem? Apresentamos, assim, algumas sugestões sobre iniciativas que, se adotadas, poderiam melhorar os mecanismos de estímulo à inovação na indústria.
Para dar mais foco à inovação, sugerimos financiar estudos de mercado acoplados a projetos de investimento, auxiliando a empresa a direcionar a especialidade em que deve promover a inovação. Além disso, as disciplinas nas universidades poderiam ser direcionadas para os focos. O estimulo à integração da indústria com os serviços a ela correlatos a diferenciaria de seus concorrentes em serviços pós-venda e em engenharia de manutenção.
Quanto ao aprimoramento dos instrumentos de apoio, seria importante promover a revisão geral dos incentivos e a simplificação de procedimentos para a análise do mérito das empresas na estruturação dos projetos e na reunião da documentação. Ações poderiam ocorrer no sentido de disseminar informações sobre incentivos fiscais, linhas de financiamento e fundos de capital de risco existentes.
As medidas para o fortalecimento da infraestrutura de pesquisa, desenvolvimento e inovação certamente exigirão aportes para reequipar as escolas técnicas e aliá-las a laboratórios de teste, voltados para atender aos principais setores de cada Estado. A ampliação das dotações para bolsas de mestrado e doutorado no País contribuiriam igualmente.
Aprimoramentos na lei trabalhista fomentariam a aplicação na empresa de conhecimento desenvolvido na academia, permitindo a formalização de contratos de trabalho flexíveis por tempo parcial, sem prejuízo das atividades docentes nem risco para as empresas. A pontuação na carreira acadêmica de docentes que se integrarem em programas de empresas poderia se somar. Do lado da empresa, falta estimular a contratação de programas das universidades e a transferência para o Brasil de centros de pesquisa e desenvolvimento de multinacionais.
Quanto ao apoio à inovação nas pequenas empresas, é urgente mapear instituições como: agências de fomento, instituições científicas e tecnológicas e núcleos de inovação tecnológica de cada Estado. Por isso, sugerimos a obrigatoriedade da adoção de uma metodologia padronizada para a apresentação das informações sobre cada entidade do sistema de ciência e tecnologia.
Assim, apesar de as políticas industriais nacionais atuais pretenderem promover mudanças pela inovação na prática, o salto que o Brasil terá de dar exigirá esforço desproporcional. Temos de começar imediatamente e com medidas de alto impacto e baixo custo.
ECONOMISTA E MESTRE EM ECONOMIA PELA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO.
COORDENA O DEPARTAMENTO DE ECONOMIA DE VÁRIAS ENTIDADES DE CLASSE PATRONAIS, SENDO SÓCIA
DA CONSULTORIA WEBSETORIAL.
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