El Salvador?
LUIZ GARCIA
O GLOBO - 22/03/11
Em nenhum de seus discursos no Brasil Barack Obama fez qualquer referência ao fato de que é o primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Nem deveria: a extraordinária importância de sua presença na Casa Branca apoia-se na conveniência - ou, talvez se deva dizer, na necessidade - de tratar o fato como absolutamente natural. Por mais que seja um marco de grande importância na história das relações étnicas no país.
Graças a Deus, e possivelmente ao Itamaraty, nenhum dos donos da casa teve o mau gosto de mencionar a satisfação deste nosso país mestiço com a presença na Casa Branca de um negro - como se diz nos EUA; para nós, Obama é um mulato claro, o que faz alguma diferença, já que por aqui o preconceito, que ainda não sumiu inteiramente, sempre foi menos de etnia do que de cor.
A visita foi um sucesso absoluto, para o visitante e os donos da casa, no campo das relações públicas: nenhuma gafe, nenhuma confusão. Todo mundo se comportou bem, e na verdade não havia por que temer coisa diferente. Até mesmo os traficantes da Cidade de Deus tiveram o bom gosto de não fazer alguma besteira na visita de Obama ao seu território.
Tudo correu bem, nos limites formais e simbólicos de uma visita presidencial. Ou seja, os pleitos brasileiros nos Estados Unidos, todos na área comercial, esbarram na muralha protecionista ciosamente defendida pelo Congresso americano - e esse é um obstáculo a interesses brasileiros e de outros países que a Casa Branca não pode derrubar. Possivelmente, nem quer.
No fim das contas, o documento mais importante que resultou da visita foi o que cria um "grupo de monitoramento da relações econômico-comerciais". "Monitoramento", como se sabe, é um polissílabo curioso: usa-se em lugar de "controle" exatamente porque não significa grande coisa. No fim das contas, quem monitora sem controlar não exerce poder algum. E empresários brasileiros não se iludiram: deram boa nota às intenções anunciadas por Obama, mas, como disse um deles, não se imagina que ele tenha força política para derrubar barreiras comerciais no Congresso americano.
E ninguém se ilude: visitas presidenciais, exceto no caso de ditadores, são, mais do que qualquer outra coisa, exercícios de relações públicas. Têm importância e alguma utilidade - mas sem qualquer garantia de resultados concretos a curto prazo.
No fim das contas, talvez não seja exagero considerar Obama e família como visitantes extremamente simpáticos e bem preparados: foi uma visita com índice zero de gafes e mal-entendidos.
Com certeza, será a mesma coisa no Chile e em El Salvador. A propósito: por que ninguém se lembrou de tentar descobrir o que o presidente americano vai fazer em El Salvador?
Nenhum comentário:
Postar um comentário